sexta-feira, 6 de abril de 2012

DESIDENTIFICAÇÃO



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Todos sonhamos mas nem todos se preocupam em investigar os sonhos a não ser aqueles que se dedicam em especializar-se no tema. Entretanto todos nós deveriamos procurar estudar os sonhos para entender um pouco mais de nós mesmos.

Em sua teoria Freud afirma que o sonho é uma representação do desejo e nos introduz nos campos psicológico, tradicional e iniciático.

Se considerarmos o sonho do ponto de vista tradicional, ele está relacionado ao corpo sutil ou corpo astral que também é chamado de corpo de desejo. Assim, quando sonhamos exprimimos desejos. 

A dimensão em que Freud analisa o sonho é a dimensão astral, psíquica. Jung escolheu analisar o sonho do ponto de vista espiritual e os parapsicólogos acompanham este padrão de análise, considerando  o sonho um contato telepático com outros seres. 

Contato este, semelhante ao que o vidente tem com os espíritos.
No entendimento de Francis Crick, nós sonhamos para esquecer, para eliminar sobrecargas energéticas.

Para iogues que concordam com o ponto de vista sob o qual Jung analisa nossa capacidade de sonhar, os sonhos são a expressão de um nível mais alto de consciência da pessoa.

Na verdade todos estes especialistas estão de certa forma corretos pois não temos um só tipo de sonho, e cada um está analisando um tipo de sonho, deixando os outros tipos de parte.

Segundo a hipótese sob a qual Patrick Paul analisa os sonhos, todo sonho refere-se a relação  de mim comigo mesmo, a relação entre o gêmeo celeste e o terrestre, metaforicamente, adão (gêmeo celeste) e eva (gêmeo terrestre), temos, neste sentido a metáfora do casamento entre o céu e a terra.

Temos em nós as duas dimensões, a celeste e a terrestre, se eu não estiver acordado para a dimensão celestre isto vai resultar num conflito que o sonho vai procurar resolver.

Quando estamos consciene de nossa dimensão celeste e a amamos esta unificação vai resultar no surgimento do corpo causal. Neste nível seu amor é amor a Deus. Quando estamos unificados com o gêmeo celeste esta condição se expressa no sono profundo.

A demora em chegar a este nível se deve ao fato de que o ego confunde o desejo de união ao gêmeo celeste, união com Deus, com o Todo com pequenas satisfações desta grande carência através da posse de coisas materiais cuja satisfação é falsa e logo em seguida a carência continua exigindo uma satisfação.

O sonho onde predomina a expressão do corpo de desejo permite que aos poucos tomemos consciência dessas carências do corpo físico e do corpo astral ou seja do ego para poder converter o desejo ou seja, reconhecer a ilusão do falso desejo para o qual a satisfação é sempre muito volátil.

Nossos condicionamentos criam nossos desejos, necessitamos descobrir como somos condicionados, qual é a falsa cabeça que carregamos (a metáfora é a luta de Hércules com a Hidra que a cada cabeça cortada nasce outra.). Se a falsa cabeça for cortada, surgirá a verdadeira cabeça. Neste momento, o desejo (eros) se transforma em rosa.

Quando o Ser se liberta das cabeças da hidra (suas falsas cabeças, seus condicionamentos), se torna, no nível existencial como uma rosa, uma expressão de Maria, purificado dos pecados ou seja, das matrizes dos condicionamentos. Esses condicionamentos são representados pela mãe negra e pelas experiências do negro (nigredo na tradição alquímica)

O único verdadeiro desejo do Ser existencial pode ser representado por uma matriz feminna, pela parte Yin, isto é, pela dimensão feminina de nós mesmos, sejamos homens ou mulheres.
O verdadeiro desejo dessa matriz virginal é receber e ser fecundada pelo masculino em nós mesmos, ou seja, pelo gêmeo celeste ou Verbo Divino.

A questão crucial é reconhecermos o verdadeiro desejo (distinguí-lo dos falsos desejos, os condicionamentos), os falsos desejos e as carências dificultam este reconhecimento. A solução não é reprimi-los nem realizá-los mas descobrir o desejo verdadeiro, real, essencial.

Na civilização/tradição grega existiam os sonhos terapêuticos e para ter estes sonhos ia-se para templos de cura e os sonhos eram interpretados por sacerdotes especialistas na arte de interpretar sonhos. Além dos sonhos terapêuticos os gregos consideravam os sonhos emunctórios, de eliminação, de descarga no sentido de vivenciar no sonho para esquecer e finalmente eles consideravam a existência dos sonhos de encontro com a dimensão espiritual e celeste de si mesmo, isto é, o gêmeo celeste.

Os sonhos emunctórios não devem ser relatados mas esquecidos. Os sonhos provenientes da nossa metade celeste necessitam de interpretação e compreensão para nos tornar um pouco mais obedientes à dimensão celeste, ou seja, ao nosso verdadeiro desejo que é o desejo de nossa essência espiritual e não os falsos desejos do ego.

A grande chave para o trabalho espiritual que nos leva à iluminação ou seja à libertação da roda de sansara (as reencarnações) é o trabalho para reconhecer as matrizes de condicionamento astral que nos levam a viver repetidamente as mesmas situações problemáticas. Ao reconhecer uma matriz poderemos aos poucos nos libertar e partir para outra matriz e assim sucessivamente até a total purificação.

Estas etapas de reconhecimento e purificação são levadas a efeito durante um período de sete anos e, raramente atingimos um nivel de purificação que permita o contato com o mundo celeste antes dos quarenta anos. E, a maioria não consegue realizar este trabalho e volta em outra existência nas mesmas condições para começar tudo de novo. A liberação somente se torna possível aos 42 anos após o sexto setênio de descondicionamento. Por isso, na tradição judaica não se praticava a Cabala antes dos 49 anos.

O astral purificado se torna a ponte que liga o terrestre ao celeste.
A partir do momento que a pessoa passa a ter sonhos lúcidos o astral está exercendo sua função de emanador do plano celestial.
Todo este trabalho sobre o nível astral, egoico, etc, faz parte de um processo de desindentificação com o falso centro ou seja o ego, que é uma parte de nós mas não o todo.  

A identificação com a realidade psico-corporal sempre levará à morte, só com a desindentificação com esta parte que morre é que nos fará imortais. 

A desindentificação é a segunda morte após a qual renascemos em espírito e esta vida depois do renascimento é a vida eterna. Neste nivel estamos livres das formas pois não precisamos delas para Ser.  Jesus falava deste segundo batismo onde se renascia do Espírito Santo.


Leituras recomendadas para um aprofundamento no tema:
Patrick Paul - Sonhos seus mistérios e revelações - sonho terapêutico e sonho iniciático.
Freud - Obras completas - capítulo referente aos sonhos
Jung - Obras completas - capítulo relacionado ao tema dos sonhos

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