sexta-feira, 15 de novembro de 2013

DAMANHUR A ECOVILA ITALIANA - um sonho possível

Vale Valchiusella, região italiana do Piemonte, a 40 km de Turim. Este é o ...
Vale Valchiusella, região italiana do Piemonte, a 40 km de Turim. Este é o endereço de uma das mais simbólicas ecovilas do planeta: Damanhur. É lá que, desde 1979, seus moradores desenvolvem um modelo de vida diferente, mais integrado à natureza e às artes, porém não menos conectado às descobertas científicas e tecnológicas do mundo que a cerca.
Damanhur ou "Cidade da Luz" é o nome de uma antiga cidade egípcia. Mas nos Alpes piemonteses, no Vale Valchiusella, é sinônimo de comunidade sustentável bem-sucedida - reconhecimento, aliás, que atravessou fronteiras. 
Em 2005, durante o Fórum Global de Assentamentos Humanos das Nações Unidas, na China, a Damanhur recebeu o prêmio de modelo de sociedade sustentável, por sua colaboração com autoridades locais e seu comprometimento com o desenvolvimento de territórios vizinhos.
Em seus 520 hectares, dos quais 300 são áreas naturais preservadas, criatividade e inovação são como palavras de ordem da ecovila, que acumula feitos importantes em sua trajetória de 30 anos. -Damanhur possui, por exemplo, uma moeda própria, paralela ao Euro, chamada Credito, e desenvolve mais de 80 atividades econômicas e serviços, que rendem um faturamento anual de US$ 25 milhões-, conta Victor Leon Ades, engenheiro e designer de sustentabilidade, que relatou sua experiência na ecovila italiana em palestra do projeto "Diálogo com as Ecovilas", promovido pela UMAPAZ - Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura de Paz, em São Paulo, em março de 2009. 
Além disso, a ecovila mantém casas multifamiliares (cohousing) para abrigar até 25 pessoas, produz uma grande variedade de alimentos orgânicos, realiza pesquisas de tecnologias verdes e construiu ao longo dos anos, em regime de mutirão, enormes Templos da Humanidade, salões subterrâneos que atraem visitantes do mundo inteiro. 
A seguir, selecionamos algumas das muitas curiosidades de Damanhur, que se inspira na experiência de civilizações antigas e nas mais novas descobertas tecnológicas para moldar sua própria história e inspirar outras comunidades. E se quiser conhecer outras comunidades sustentáveis, visite o site da Rede Mundial de Ecovilas.
Cohousing: uma casa, várias famílias

NOTA DA BLOGUEIRA: Ecovilas podem dar certo, ser sustentáveis, auto suficientes e lucrativas. Pois é, algumas utopias podem se tornar realidade, dependendo da capacidade, amadurecimento, evolução dos seus desenvolvedores.
Um título para uma foto sem titulo

Um título para uma foto sem titulo
Um título para uma foto sem titulo


Um título para uma foto sem titulo

FONTE:http://casa.abril.com.br/materia/damanhur-a-ecovila-italiana-de-us-25-milhoes

Damanhur, um sonho possível

Localizada em Piemonte, na Itália, a Federação de Damanhur é uma ecovila que propõe um novo modelo de organização comunitária e de vida. Aqui, a representante internacional, Esperide Ananás, conta um pouco sobre a história da comunidade e mostra que sonhar e colocar a mão na massa são ingredientes essenciais para um mundo muito melhor



Silvia Buffagni é formada em Literatura inglesa e espanhola pela Universidade IULM, em Milão, com mestrado em Artes da Comunicação pela Universidade de Nova Iorque, fluente em cinco línguas, já trabalhou no Parlamento Europeu e foi consultora de organizações italianas e internacionais. Em 1992, quando trabalhava em Milão como Relações Públicas e já era reconhecida pelo seu trabalho na Itália, foi convidada por um amigo a conhecer a Federação de Damanhur, uma eco-sociedade que existia desde 1975 e propunha um novo modelo de organização comunitária e de vida. A intenção do convite era pedir à Silvia que organizasse uma campanha junto à imprensa para apresentar, ao mundo, aquela comunidade e os Templos da Humanidade – verdadeiras obras de arte construídas por seus moradores.

“Era julho, estava muito quente e eu disse que não iria, que preferia ir à praia”, conta. No entanto, a insistência do amigo foi tão grande que ela resolveu ir até o local para ver o que ele queria lhe mostrar e seguiria para a praia logo depois. “Fiquei tão encantada que, não só não fui à praia naquele final de semana, como decidi ajudá-los a divulgar a existência dos templos para as pessoas. E resolvi morar ali”. 

Hoje, Silvia Buffagni é Esperide Ananás. O nome escolhido por ela para a vida na comunidade faz referência a uma espécie de borboleta e ao abacaxi, para contemplar tanto o ar quanto a terra. Esperide é a representante internacional de Damanhur, ministra seminários pelo mundo sobre novos modelos sociais, econômicos e espirituais para a sustentabilidade e trabalha com cura sélfica na comunidade. 

Desde 2005, ela também é membro do Pearl Group, um programa destinado a empresas, que ajuda as pessoas a se abrirem para a própria criatividade por meio de jogos e meditação. “A prática é voltada para quem tem êxito profissional, mas não sabe o que fazer de sua vida e quer algo diferente”, define. 

Em agosto de 2009, Esperide veio ao Brasil para participar da Campanha para Liderança Climática, do State of the World Forum, conhecida como Brasil 2020, lançada em Belo Horizonte. Em seguida, veio para São Paulo, onde ministrou palestras e fez atendimentos. Na época, ela conversou com o Planeta Sustentável e contou sobre a vida em Damanhur. O mais interessante é que várias práticas adotadas ali podem servir de modelo e ser replicadas em vários lugares do mundo. 

Como surgiu a Federação de Damanhur? 
Em Turim [Itália], havia um centro que trabalhava com medicina natural e atividades chamadas de paranormais, ou seja, todas as coisas que não se podia explicar. Oberto Airaudi [fundador de Damanhur] trabalhava e dava palestras nesse centro e, depois de um tempo, juntamente com um grupo que se encontrava todo final de semana, decidiu se dedicar a ter uma vida verdadeiramente espiritual em uma comunidade. Eles rodaram o mundo durante dois anos para encontrar um lugar adequado e, quando voltaram à Itália, Oberto sugeriu que eles fossem ver o que havia nas colinas próximas de Turim. Não havia nada além de pinhas: o lugar era completamente inóspito. De repente, um senhor muito velho chegou até eles gritando: por que demoraram tanto? Estou esperando vocês há anos! 

Então, ele contou que, anos antes, teve um sonho em que uma mulher lhe dizia para comprar aquelas terras, pedaço por pedaço, porque uma comunidade iria se formar ali e servir de exemplo para todo o mundo. Esse senhor não tinha muitos recursos e pegou todo o seu dinheiro para atender ao pedido. Mas, durante um bom tempo, nada aconteceu. O grupo comprou as terras e deu início a Damanhur. 

Quantas pessoas compunham esse grupo?
Damanhur começou com 13, 14 pessoas, depois eram 40 e depois muitos mais. Hoje, são cerca de mil habitantes. Em 1992, os templos construídos pelos moradores da comunidade foram descobertos e começou a vir gente de todo o mundo. Já estamos na terceira geração de damanhurianos, são filhos dos filhos dos que nasceram em Damanhur, e estamos muito felizes com isso, pois agora temos uma sociedade dinâmica. 

Vocês se denominam uma ecossociedade. O que caracteriza esse conceito? 
Viver em uma eco-sociedade é trabalhar para deixar a terra melhor do que como a encontramos. Tratamos de viver segundo os mesmos princípios propostos pela Carta da Terra. São princípios que já havíamos escolhido e foi fantástico ver que eles também estão escritos, são claros e servem de referência para o mundo. Entendemos que a ecologia não se resume à Terra, mas às relações humanas.

A espiritualidade está muito presente em Damanhur. Como você relaciona espiritualidade e sustentabilidade? Sem espiritualidade não podemos construir uma vida sustentável. A espiritualidade é o valor que nos faz sentir que, ao final, todos somos um. Esse é um valor ético muito profundo que precisamos despertar para nos livrar desse egoísmo, transmitido pela propaganda, durante anos e anos, para termos cada vez mais e pensarmos apenas em nós e em nossa pequenina família. Os demais não existem. 

Só um despertar espiritual pode mudar isso de uma forma rápida, já que não temos mais muito tempo. Por isso construímos os templos em Damanhur. Foi uma forma de criar um espaço sagrado para que aqueles que os visitem sintam a presença desses valores. 

Há uma religião em Damanhur?Os novos tempos não são para as religiões. Elas foram úteis até certo ponto, mas em muitos lugares, as religiões não servem para despertar as pessoas. Por exemplo, o Papa diz que não podemos praticar a contracepção, mas se não diminuirmos a quantidade de gente que vive neste planeta, vamos morrer todos. 

A espiritualidade deve funcionar como um despertar de valores éticos, e apenas falar sobre o assunto não é o suficiente. É por isso que temos a comunidade, afinal, é na vida cotidiana que podemos verificar se estamos crescendo de forma espiritual. Se os templos são belos, mas as pessoas brigam ou há sujeira nas ruas, não estamos praticando a espiritualidade. 

Viver em comunidade não deve ser sempre fácil. Não existem conflitos entre os moradores?Claro que existem e é importante não ter medo desses conflitos, mas encará-los como uma energia que pode ajudar a transformar certas coisas. Agora, se as pessoas querem brigar de forma destrutiva, nossa tradição diz que elas têm que sair da comunidade. Como a competição faz parte da essência dos seres humanos, nós utilizamos muitos jogos para que isso possa ocorrer de forma controlada e positiva, o que ajuda muito a reduzir os conflitos. Fazemos concursos de arte e também guerras de tinta colorida nos bosques, na época do inverno. 

O que é necessário para se morar em Damanhur?Querer muito viver como vivemos. Muita gente vai à comunidade para fazer cursos ou mesmo para tirar férias, mas se a pessoa quer viver em grandes famílias como vivemos e dividir a vida conosco, há um programa para novos cidadãos que vai de seis meses a um ano. Um grupo de interessados vive junto durante esse período e há mentores que os ajudam a se inserir em todos os aspectos da vida na comunidade. Mas é necessário que cada um encontre uma forma de viver do seu próprio trabalho.

Quem nasce em Damanhur normalmente continua morando lá a vida toda?A maioria dos jovens se foi, no começo. Muitos deles vivem perto de Damanhur, mas não querem para si a experiência da vida em comunidade. Acredito que isso se deve ao fato de seus pais terem ficado muito ocupados com a garantia da sobrevivência de todos, já que no começo não havia muito dinheiro na comunidade e a vida era mais dura. Acho que esses garotos não tiveram uma experiência tão positiva e estão em uma fase de buscar sua individualidade. 

Mas isso tem mudado. Os jovens que nasceram depois vão e regressam. Até porque Damanhur agora é muito mais interessante, temos gente de todo o mundo, dinheiro, muitas atividades culturais, as casas são belas... 

Temos muito cuidado para que a vida ali não se torne uma doutrina. Para nós, é importante que a individualidade de cada criança seja respeitada para que possam escolher o que querem fazer quando crescerem. Não pensamos que, só porque nasceram em Damanhur, elas vão ficar. Nós esperamos que fiquem e transmitimos valores importantes, mas não queremos que vivam de uma forma fechada. Por isso, os jovens viajam e são incentivados a passar um ano fora estudando. Não se pode ficar em Damanhur sem querer. 

O que você considera a grande contribuição de Damanhur para o mundo?Podemos ser um laboratório para a humanidade e ensinar ao mundo que é possível viver de forma diferente. Foram pessoas normais que construíram Damanhur, mas criamos algo belo para dar sentido à vida. Os sonhos são fundamentais para os seres humanos, não podemos viver apenas com a realidade, mas também precisamos agir para dar materialidade a eles. Não há nada pior do que sonhos que não se realizam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

seus comentários são sempre bem vindos. Agradeço sua participação.