quinta-feira, 8 de novembro de 2012

OS SÍMBOLOS E OS ARQUÉTIPOS


A MÃE




O símbolo é a pegada (ou o gesto) visível de uma realidade invisível ou oculta. É a manifestação de uma ideia que assim se expressa a nível sensível e se faz apta para o entendimento. Num sentido amplo, toda a manifestação toda a criação, é simbólica, como cada gesto é um rito, seja isto ou não evidente, pois constitui um sinal significativo.

O símbolo nomeia as coisas e é uno com elas, não as interpreta nem define. Em verdade, a definição é ocidental e moderna )ainda que nasça na Grécia clássica) e poderia ser considerada com a porta à classificação posterior.

O símbolo não é só visual, pode ser auditivo, como  é o caso do mito e da lenda, ou absolutamente plástico e quase inapreensível como sucede com certas imagens fugazes que, no entanto, marcam-nos. Na época atual, costuma-se-lhe associar mais com o visual, porque a vista fixa e cristaliza imagens em relação com estes momentos históricos de solidificação e anquilosamento mais ligados ao espacial que ao temporal.

O símbolo é intermediário entre duas realidades, uma conhecida e outra desconhecida e, portanto, o veículo na busca do Ser, através do Conhecimento. Os distintos símbolos sagrados das diferentes tradições (e por certo também os símbolos naturais) se entreteçam e se vinculem entre si constituindo uma Via Simbólica para a realização interior a saber: para o Conhecimento, ou seja, o Ser, dada a identidade entre o que o homem é e o que conhece. 

O metafísico, essa região desconhecida e misteriosa, manifesta-se no mundo sensível por intermediação do símbolo. Graças a este, é possível o Conhecimento para o ser humano; imagens e símbolos nos permitem consciência do mundo que nos rodeia, do que este significa e de nós mesmos.

Os símbolos sagrados, revelados, foram depositados em todas as tradições verdadeiras. Os sábios de diferentes povos, por meio da Ciência e da Arte, promoveram sempre o conhecimento desses mundos sutis que os próprios símbolos testemunham. Eles permitem que aquelas realidades superiores toquem nossos sentidos e possibilitem que o homem, a partir desta base sensível, eleve-se a essas regiões que constituem seu aspecto mais interno: seu verdadeiro Ser.



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OS ARQUÉTIPOS


Arquétipo do amante
Arquétipos da juventude : O Amante
Fonte da imagem : http://www.terapiaemdia.com.br/?p=167 



As principais estruturas formadoras de nossa personalidade são os arquétipos. Os arquétipos não possuem conteúdo definido mas funcionam como uma fôrma que dá forma a diversos conteúdos.  Já os símbolos são o modo pelo qual o nosso inconsciente se expressa. Os arquétipos também são considerados como um conjunto de imagens psíquicas do inconsciente coletivo que são patrimônio comum de toda a humanidade. 

Segundo Jung, os principais arquétipos são: a sombra, o velho sábio, a criança, o herói-criança, a mãe, a virgem, a ânima (o feminino do homem), o animus (o masculino da mulher), o paraiso perdido, os irmãos inimigos, o círculo, a rosa, a serpente, Dom Juan, a femme fatale, o mágico, o alquimista.

Arquétipo é uma palavra de origem grega, primeiramente usada por Platão com o significado de "padrões arcaicos" . É uma matriz comportamental herdada por todo ser humano, como arcabouço capaz de selecionar as experiências da vida, os elementos significativos que estejam em sintonia com o processo inato da individuação.

Os arquétipos, verdadeiras potências imateriais, surgem como entidades impalpáveis e incognoscíveis, mas se manifestam por meio de ideias e imagens e vestem-se com as mais distintas roupagens de acordo com as culturas que os representam.

A alma se comunica com a consciência através de uma linguagem simbólica - Jung a chama de linguagem arquetípica e utiliza o termo arquétipo para certas estruturas míticas básicas que são comuns à experiência humana. Os arquétipos de Jung são mais existenciais que transcendentais, são facetas das experiências do dia a dia da condição humana. São formas míticas herdadas coletivamente pela psiquê.

 Ken Wilber entende que as formas míticas (arquétipos de Jung) nada tem a ver com misticismo, com a genuina consciência transcendental. Para este autor, o principal erro de Jung foi não fazer uma distinção entre inconsciente coletivo e o nível  transpessoal (ou místico). No seu entender, as formas míticas coletivas apesar de serem herdadas do inconsciente coletivo isto não significa que elas sejam místicas ou traspessoais.

Os arquétipos de Jung segundo entende Wilber, não pertencem ao nível da consciência espiritual, transcendental, mística, transpessoal - tratam de situações existenciais como vida, morte, mãe, pai, sombra, ego, etc.

No entender de Wilber esta denominação deveria ser reservada para "arquétipos transpessoais" que corresponderiam às formas primordiais do Espírito Intemporal e não  às formas antigas da história temporal. No processo de individuação segundo Jung, é necessário que nos afastemos dos arquétipos, diferenciemo-nos deles, livremo-nos do seu poder.

No que diz respeito aos arquétipos transpessoais devemos nos aproximar deles para transcender a personalidade. Entretanto, o que Jung denomina Self é um arquétipo transpessoal. Wilber relaciona seus arquétipos transpessoais com as primeiras formas do início da involução e os arquétipos junguianos às primeiras formas que surgem no início da evolução. Os arquétipos junguianos (exceto o Self) pertencem ao nível psicológico, descendente.

 O tarô tem a possibilidade de simbolizar amplamente os arquétipos junguianos e, um mergulho no mundo dos "Arcanos" permite espelhar a alma para melhor conhecê-la e assim poder transcende-la.

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De acordo com Ken Wilber, com o qual concordo, o termo arquétipo tem sido utilizado de uma forma inapropriada porque abarca dois conteúdos bem diferentes, um no plano místico e outro no plano mítico. 

Os arquétipos aos quais Jung se reporta deveriam ser denominados de protótipos porque são existenciais e os verdadeiros arquétipos são transpessoais, intemporais. Achei muito interessante transcrever o ensaio de KW sobre os arquétipos justamente para que não haja confusão entre o que é MÍTICO  e o que é MÍSTICO, o que é pessoal, existencial, com o que é transcendental, divinal. 

O arquétipo é a VIDA antes da queda e o protótipo é a manifestação do atemporal no mundo da forma, no mundo da dualidade, em seus primórdios, sendo assim, muito antigos, arcaicos e coletivos, mas não místicos.

Vejamos a explanação que KW faz a este respeito:

"[...] Para os místicos - Shankara, Platão, Agostinho, Eckhart, Garabe Dorge e outros - arquétipos são formas sutís primordiais que aparecem à medida que o mundo se manifesta a partir do Espírito informe e não manifesto. Eles são os padrões sobre os quais os outros padrões de manifestação se baseiam.

Do grego "arche Typon,  padrão original. Formas sutis, transcendentais que são as formas primordiais de manifestação, não importa se a manifestação é física, biológica, mental, etc.

Na maioria das formas de misticismo, esses arquétipos são basicamente padrões radiantes ou pontos de luz, iluminações audíveis, formas e luminosidade brilhantemente coloridas, arco-íris de luz, som e vibração - através dos quais, em manifestação, o material é condensado, se assim podemos nos expressar.

Jung, entretanto, usa o termo para certas estruturas míticas básicas que são comuns à experiência humana: "trickster" (trapaceiro, vigarista, brincalhão), a sombra, o velho sábio, o ego, a persona, a grande mãe, a anima o animus, etc. Eles são  mais existenciais que transcendentais. São simplesmente facetas das experiências comuns do dia-a-dia da condição humana.

Concordo que essas formas míticas são herdadas coletivamente pela psiquê. Também concordo inteiramente com Jung,  que é muito importante chegar a um acordo com estes arquétipos míticos.

Estas formas míticas nada têm a ver com misticismo, com a genuína consciência transcendental.

Em minha opinião, o principal erro de Jung foi confundir coletivo com transpessoal  ( ou místico). Simplesmente porque minha mente herda certas formas coletivas não significa que essas formas são místicas ou transpessoais.

Os arquétipos de Jung, virtualmente nada têm a ver com a genuína consciência espiritual, transcendental, mística, transpessoal. Ao contrário, são formas coletivamente herdadas que distilam alguns dos mais básicos encontros existenciais do dia-a-dia da condição humana - vida, morte, mãe, pai, sombra, ego, etc. Nada místico. Coletivo, sim, transpessoal, não.

O poder dos "arquétipos verdadeiros" os arquétipos transpessoais" provém diretamente do fato de serem as formas primordiais do Espírito intemporal,  o poder dos arquétipos junguianos provém do fato de serem as formas antigas, arcaicas, da história temporal.

Como o próprio jung ressaltou, é necessário afastarmo-nos deles, livrarmo-nos do seu poder. Ele chamou esse processo de individuação. E, novamente  concordo  inteiramente com ele, sobre este ponto. Devemos nos afastar dos arquétipos junguianos.

Mas devemos nos aproximar dos arquétipos verdadeiros, os arquétipos transpessoais, para, em última instância, conseguirmos uma mudança integral de identidade para a forma transpessoal. O único arquétipo junguino que é genuinamente transpessoal é o Self, mas mesmo sua discussão sobre ele, em minha opinião, deixa a desejar pelo fato de jung não enfatizar suficientemente seu essencial caráter não-dual.

(Pincei alguns trechos que me pareceram mais elucidativos para ao que me propuz - conceituar arquétipos - do ensaio de Ken Wilber sobre "Os arquétipos de Jung)

Fonte www.ariray.com.br/textossaladeleitura/03-arquetipos.doc
Ari Ray é o tradutor autorizado das obras do psicólogo e místico Ken Wilber

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