quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Uma guerreira, uma índia, uma mulher: ELIANE POTIGUARA

Eliane Potiguara



Esta foto traduz a amplitude do coração da mulher índia, capaz de acolher e amamentar qualquer criatura viva. (foto do site de Eliane)



Hoje conheci o blog de uma guerreira indígena, lutadoraa escritora indígena, professora, mãe, avó, 54 anos, remanescente Potiguara. É Conselheira do Inbrapi, (Instituto Indígena de Propriedade Intelectual) e Coordenadora da Rede de Escritores Indígenas na Internet e o Grumin/Rede de Comunicação Indígena.


Eliane foi indicada para o Projeto internacional Mil Mulheres Para o Prêmio Nobel da Paz.É uma das 52 brasileiras indicadas.


Formada em Letras (Português-Literatura), licenciada em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, participou de vários seminários sobre Direitos Indígenas na Onu, organizações governamentais e Ongs nacionais e internacionais. Seu currículo é extenso  como o de qualquer intelectual, professor e escritor brasileiro.


 O mais admirável é ela ter chegado a este nível vindo de onde veio, de um povo discriminado, massacrado, humilhado e expulso de suas terras de origem. Então resolvi trazê-la para este blog para que muito mais gente a conheça, no Brasil e fora dele. Aliás, ela é muito mais conhecida no exterior que por aqui.


Abaixo transcrevemos um trecho de um dos livros que escreveu para que possam conhecer o seu talento literário, engajado na luta dos povos indígenas para ter seus direitos reconhecidos e sua dignidade restaurada. Para conhecer melhor Eliane Potiguara visita seu site: 


Agora, vamos ao texto de Eliane. 



Compromisso com a Cultura e Espiritualidade Indígenas

A coisa mais bonita que temos dentro de nós mesmos é a dignidade. Mesmo se ela está maltratada. Mas não há dor ou tristeza que o vento ou o mar não apaguem. 


E o mais puro ensinamento dos velhos, dos anciãos, partem da sabedoria, da verdade e do amor. Bonito é florir no meio dos ensinamentos impostos pelo poder. 


Bonito é florir no meio do ódio, da inveja, da mentira ou do lixo da sociedade. Bonito é sorrir ou amar quando uma cachoeira de lágrimas nos cobre a alma! Bonito é poder dizer sim e avançar. Bonito é construir e abrir as portas a partir do nada. Bonito é renascer todos os dias. 


Um futuro digno espera os povos indígenas de todo o mundo. Foram muitas vidas violadas, culturas, tradições, religiões, espiritualidade e línguas. A verdade está chegando à tona , mesmo que nos arranquem os dentes! 


O importante é prosseguir. É comer caranguejo com farinha, peixe seco com beiju e mandioca. É olhar o mar e o céu. E reverenciar os mortos, os ancestrais. É sonhar os sonhos deles e vê-los. É conviver com as "manias de cabôco", mesmo sufocados pela confusão urbana ou as ameaças agrestes, porque na realidade são as relações mais sagradas de nosso povo, porque são relações com a terra e com o criador, nosso Deus Tupã. 


Bonito é vestir os trajes do Toré e honrar-se como se vestira os trajes dos reis e senti-los como a expressão máxima das relações entre o homem , a terra e Deus. É sentir o sagrado e o universo. O importante é crer e confiar mesmo que na noite anterior violaram nossa casa ou nosso corpo. 


É preciso ouvir os velhos, o som do mar, dos ventos. É preciso a unidade entre as famílias, por isso pedimos a Tupã que nos proteja e dê um basta ao sofrimento secular de nosso povo comedor de mandioca. Pedimos à força superior, que nossos pensamentos se elevem aos mais profundos planos sagrados da espiritualidade indígena, junto aos velhos, aos curandeiros, aos velhos pajés apagados pelo poder, mas renascido como FORÇA, pela consciência do povo. 


Pedimos que nossos espíritos se elevem ao mais sagrado da sabedoria humana e receba a irradiação do amor, da paz e do conhecimento à todas as nossas cabeças indígenas e de outras etnias e povos, transformando todo pensamento discordante , conflituoso em pensamento de paz, que construa a unidade entre todos os seres do planeta Terra.

Que possamos construir a partir de agora, uma grande frente de energias, apoiada por todos que lêem esse compromisso, para garantir a dignidade de povos abandonados , condenados à extinção.


Não! Não podemos admitir a derrota. Há jovens, crianças sorrindo, há mar, há sol, há esperanças. Há espiritualidade! Basta que soltemos as amarras do racismo impostos ao nosso subconsciente, esse inimigo que divide o nosso povo.


Abramos a porta. Entremos. Nossos velhos nos esperam para a cerimônia da paz e da luz inquebrantável.


Um grande marco se está colocando aos anciãos, aos guerreiros, nossos avós, nossas mães, defensores eternos da terra e da natureza.


Vamos meu povo, elevemos nossos pensamentos à Tupã e abramos o nosso coração na "Oração pela Libertação dos Povos Indígenas", pelos 300 milhões de indígenas que habitam o planeta terra. E pensemos na frase sábia do cacique Xavante Aniceto: " A palavra da mulher é sagrada como a terra".

Autora:
Eliane Potiguara
Textos do livro “METADE CARA, METADE MÁSCARA” Global editora



Fonte:
http://www.elianepotiguara.org.br/textos1.html

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