A poluição, o aquecimento global fazem com que cada vez mais pessoas se preocupem com os efeitos que causamos na natureza e procurem formas diferentes para diminuir ao máximo a destruição do meio ambiente. Estamos nos tornando mais conscientes de nossos deveres e de que todas as nossas ações irão repercutir no futuro, quer dizer, no presente, pois já começamos a senti-las hoje. Esta preocupação está tão recorrente que até o cinema já abordou o assunto, como no filme de M. Night Shyamalan, “Fim dos Tempos”, que mostra claramente os efeitos nocivos das ações humanas na natureza.
E para que haja realmente uma mudança na mentalidade de todos nós, nada melhor do que começar com o básico, ou seja, com a nossa casa. O que cada um pode fazer para preservar o meio-ambiente de dentro de casa? Ou melhor, antes mesmo de habitar, como construir uma casa sustentável?
Segundo o Instituto para Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea), a construção civil é o setor que mais consome matérias-primas e recursos naturais do planeta. O coordenador do Instituto, Marcio Augusto Araújo, diz que são lançados na atmosfera cerca de 9 toneladas de CO2. Tudo isso para a construção de uma casa popular de 40 a 50 m2. “Isso é um absurdo. Para se ter idéia, uma área de 1 hectare ( 10 mil m2) de mata atlântica absorve o equivalente a 3,85 toneladas de CO2 por ano” , revela.
Mas o que é uma construção sustentável, afinal? É uma construção que se preocupa com o meio ambiente e a saúde, que associa edificar e habitar. Ou seja, a obra deve ter vida longa útil e usar somente materiais que, mesmo se houver demolição, não agridam o meio ambiente e que possam ser reciclados ou reutilizados.
Casa feita com madeira retirada do próprio loteamento.
Os vidros e alguns revestimentos foram aproveitados
de uma antiga reforma
O projeto deve explorar toda a potencialidade do sol, a umidade, o vento, a vegetação, pois os recursos naturais geram bem-estar aos moradores, além de poupar água e petróleo, que são componentes não renováveis.
A água e a eficiência energética são também fatores de extrema importância em um imóvel ecológico.
Ilustração de uma casa preparada para a reutilização de água
Segundo Marcio, como esse tipo de projeto ainda é novidade, o mercado não conta ainda com mão-de-obra especializada e desconhece tecnologias e materiais apropriados: “Devido a esses fatores, uma construção verde pode ficar até 30% mais cara do que uma obra convencional”, calcula.
É importante lembrar que há diferenças entre casas sustentáveis e ecológicas. Enquanto nas sustentáveis são permitidas construções urbanas, nas ecológicas o projeto precisa se relacionar com o verde, necessariamente. Em ambos os casos, a tecnologia trabalha a favor da natureza, possibilitando a criação de materiais ecológicos e sistemas inteligentes. Como exemplo disto, podemos ressaltar o uso da água da chuva para a irrigação dos jardins, e o sol, para a energia da casa. Essas construções são chamadas de “green buildings”, pois empregam alta tecnologia para reduzir os impactos negativos causados no meio ambiente. Vale lembrar que esses empreendimentos são submetidos a protocolos internacionais de certificação que atestam seu desempenho.
Apesar de todas as melhoras e os esforços para preservar ao máximo a natureza, seria errado afirmar que exista uma casa 100% ecológica. Abrir mão de todos os materiais que são agressivos ao meio ambiente é extremamente difícil. O arquiteto José Augusto Conceição diz que, mesmo em uma casa de madeira reflorestada, é inevitável usar o prego, que vem de uma fundição. Ele afirma ainda, que não basta ser apenas uma construção ecológica, mas que o seu morador também tem de colaborar: “Para se ter uma casa 100% correta do ponto de vista ecológico, o morador não poderia sequer chegar nela com um carro movido à gasolina”, diz José.
Os chamados ecoprodutos, que são produtos que podem ser reutilizados ou reciclados, estão sendo fabricados em larga escala, de acordo com as normas e legislações vigentes. Isso faz com que cada vez mais lojas disponham em suas prateleiras destes produtos, possibilitando maior acesso aos seus consumidores. Apesar dos esforços dos fabricantes e setores ligados aos ecoprodutos, o mercado ainda é bastante resistente, já que esses produtos tendem a ser de 5% a 15% mais caros que os tradicionais. A falta de informação e divulgação quanto à aplicação e da conseqüente necessidade de mão-de-obra especializada são outros fatores determinantes.
Para quem se interessou pelos ecoprodutos, o coordenador do Instituto Idhea, Márcio, diz que é preciso ter calma antes de adquirir qualquer produto. Ele aconselha que o consumidor faça uma extensa pesquisa, já que muitas vezes o produto carrega o rótulo de verde, mas na verdade não é.
"A auto-certificação é um dos principais inimigos do mercado verde, já que esse rótulo não é uma garantia de qualidade do produto", explica.
"A auto-certificação é um dos principais inimigos do mercado verde, já que esse rótulo não é uma garantia de qualidade do produto", explica.
Para tentar evitar esse problema, o Idhea lançou o Selo Ecológico Falcão Bauer, desenvolvido em parceria com o Instituto Falcão Bauer da Qualidade. Este selo atesta, de forma científica, para o consumidor, que os produtos são, de fato, sustentáveis.
A arquiteta Flavia Ralston recomenda que antes de pensar em construir uma casa ecológica ou não, é necessário escolher o terreno com bastante cuidado. É bom ficar atento também com a incidência de sol na área. De acordo com a arquiteta, o melhor terreno é o que está na posição norte/leste, pois oferece conforto técnico e ambiental. Os piores estão localizados nas áreas sul e oeste.
Apesar dos benefícios ao meio-ambiente destas construções, elas ainda não estão acessíveis a grande parte da população, já que seus valores são bem mais altos do que as construções convencionais. Mesmo que você não possa ainda ter uma casa auto-sustentável, comece as mudanças aos poucos, como desligar a torneira quando está escovando os dentes, abrir a geladeira quando souber o que vai pegar, evitar ligar o ar-condicionado todos os dias, apagar as luzes dos ambientes quando sair, enfim, se cada um fizer a sua parte, com certeza sentiremos melhoras daqui a diante.
Autora : Por Karine Pieruccini
Fontes: A casa auto-sustentável
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