sexta-feira, 27 de maio de 2016

O sentido de ser alguém: uma ilusão, uma fraude, uma cópia.



Mestre Gualberto: O que é que vocês estão buscando, o que vocês
estão buscando? procurando?

Participante: Se conhecer melhor.

Mestre Gualberto: Isso significa o que para você? Por que se conhecer melhor?
Não está tão bom como está?

Participante: Mas sempre falta alguma coisa.

Mestre Gualberto: É isso? Sempre falta alguma coisa, não é? E o que é isso que
está faltando? É um namorado, um casamento, filhos, três ou quatro filhos?
Tudo o que você procura na vida é a Felicidade. Qualquer coisa que você esteja 
fazendo no momento, fará no futuro ou já fez no passado., é para se sentir em
paz, internamente feliz, imperturbado. 

O que todos buscam é um amor, uma paz, uma liberdade, uma felicidade 
imperturbada. E a gente encontra isso em um namorado, em um marido, 
não encontra? A gente encontra isso em uma profissão, em uma realização
 profissional, não é? Não? 

Porque continua faltando alguma outra coisa depois disso, não é? Você diz 
"puxa lutei tanto para chegar aqui mas, agora que consegui, ainda está 
faltando alguma outra coisa... O que está faltando?

Esse trabalho que eu proponho a vocês é um trabalho de, na prática, você 
reconhecer  que todas as suas teorias não deram certo e não darão certo,
porque elas estão assentadas em uma base equivocada, que é a ilusão
sobre quem, de fato, Você é. Se você não sabe quem Você é, o que quer 
que você realize não é Você, e não pode te completar no seu lugar. O que
você é se completa, mas nada fora você vai te completar ocupando esse
lugar.

A grande maioria não sabe disso e passa uma vida inteira em uma grande
procura - em uma ilusória procura, na verdade. Elas estão à procura delas 
mesmas, mas elas não sabem porque o modelo educacional, social, cultural
que nós temos está voltado para uma realização do lado de fora. Os modelos
que nós temos de pessoas felizes são daquelas realizadas em algumas áreas
específicas da vida, mas isso não abarca o todo da existência delas. No fundo,
elas também estão em apuros.

Todo dia - ontem mesmo me veio a notícia de alguém famoso encontrado morto
com suspeita de over dose - todos os dias nós nos deparamos com isso. As 
pessoas como as quais gostaríamos de ser não estão bem. É claro que elas têm 
uma imagem pública que deve corresponder ao que elas representam para o 
mundo, para aqueles que a cercam - a imagem de uma pessoa feliz. Mas no 
privado, no particular, na vida de família, no seu dia a dia, quando estão longe
dos palcos, longe da multidão, quando estão sozinhas, elas estão com 
problemas.

Para fugir desses problemas, elas viajam, se envolvem com muito sexo, drogas,
bebidas... É assim ou não é? Eu não sei se é bem assim... Mas a gente tem uma
notícia assim todo dia: os mais famosos, os mais bem sucedidos, os mais ricos,
sempre viram notícias desse tipo.

É porque isso que buscamos não está fora, está dentro de você. É aquilo que
está aí dentro daquilo que você é, e não o que você pensa sobre si mesmo.
Não há nenhum pensamento que não seja social, que não seja cultural. Me
dê um exemplo de pensamento que não seja cultural, me apresente uma ideia
original sobre algum aspecto da vida, alguma coisa. Qual modelo que você 
tem? De mulher, de marido de pai, de mãe, de filhos, de pessoa bem sucedida...

A pergunta é: sua história é Você Ela representa de fato que Você é? Essa que 
é a pergunta. O seu nome é você? Os pensamentos que passam na sua cabeça
são seus? Isso vem de você? Quem é Você? Se você não é essa história, não é
esse nome, não é esses pensamentos que passam aí, quem é Você?
Os pensamentos são da cultura: se você tivesse nascido na África, seus 
pensamentos seriam os pensamentos de um africano, na Ásia, seria um 
pensamento asiático; se você tivesse nascido nos Estados Unidos, seria um
pensamento americano. 

Você nasceu em uma família, você pensa bem parecido com seus pais, 
com seus avós, com seus primos, você carrega uma parte de
preconceito, de medo que eles também têm. É como essa questão do DNA
que você traz deles. O que você tem de original? O que a gente traz representa
a nossa cultura. Por exemplo, esse pessoal que nasce aqui  no nordeste - eu 
fico vendo quando vamos para Fortaleza - é outro esquema. 

Você está em Fortaleza, no Ceará, e vê que o cearense tem um perfil de 
condicionamento social específico. Aí, você vem aqui para Recife ou para João 
Pessoa e já encontra outros padrões. Se você for para a Bahia ou para o Rio 
de Janeiro já é diferente também. Isso é bem local, bem social. Mas a pergunta 
aqui é: quem é Você no meio desse jogo todo?

É isso que nós chamamos de "o sentido de ser alguém": uma ilusão, uma 
fraude, uma cópia. Não há liberdade e se não há liberdade não há Felicidade. 
Se você não sabe quem de fato Você é, se está seguindo um modelo, se está 
copiando, se não é original, como pode ser feliz? Suas emoções estão no 
mesmo patamar: o  que a ofende, a magoa, a entristece, a aborrece, a chateia 
também é condicionamento, é como você responde a determinada situação. a 
determinado momento, a determinada circunstância. 

Isso determina o quanto você fica chateada ou não, triste ou não, com raiva 
ou não. Observe se não é isso, se não é bem assim. Uma coisa que chateia 
você também  o chateia? Não.

Uma coisa que entristece você, também o entristece? Não! São padrões 
egoicos, padrões por condicionamento cultural, social, espiritual.
As pessoas também ficam muito chateadas quando elas vêm me ouvir, porque
elas tinham tanta certeza de tudo e eu questiono isso... Meu trabalho é esse. 
Primeiro, você tem que saber que não sabe ou que o que sabe não resolveu
porque não é seu, não é original. 

Aí depois, a gente dá outro passo que é olhar para dentro e descobrir se tem 
alguma coisa original aí. Tem alguns que ficam só na primeira etapa, que antes 
da gente ir fundo nessa coisa, já não consegue dar esse salto para dentro, esse 
salto para algo inédito, para algo desconhecido - que não é tão desconhecido 
assim, pois é a sua Natureza Real mas você não sabe o que é Isso.

E agora você sabe que não é real, que não é nada original pensar como todo 
mundo, falar como todo mundo, sentir como todo mundo, odiar como todo 
mundo, ser feliz como todo mundo, infeliz como todo mundo, precisar de ajuda
como todo mundo, acreditar que pode ajudar como todo mundo... Crenças, 
crenças, crenças... Todo mundo complicado.

Em seu Ser. Você é único. Eu não digo que você é único no meio da
multidão onde todos são únicos. Não é isso. Estou dizendo que, em seu Ser
Você é único,  só tem Você em todo o universo, toda manifestação. E aqui
se trata de constatar isso, essa completude que Você já e. Não se trata de
obter, de conseguir, de chegar lá, de alcançar, de realizar isso, essa completude
que você já é. Não se trata de obter, de conseguir, de chegar lá, de alcançar.
de realizar isso, seguindo um modelo e chegando em algum objetivo do lado de
fora, alcançando algum objetivo lá fora, alcançando algum objetivo lá fora.

Você já é, Você é único!
Sabe qual momento em que você está completo? Quado não há nenhum sentido
de pessoa presente. Vocês todos tem momentos assim. Por que você gosta de ir
a praia? Por que você gosta de viajar? Por que você gosta de estar em lugares 
novos, em situações bem específicas, onde você está afastada de tudo, de sua
rotina? Porque naquele momento o sentido do ego preso em suas obrigações, 
desapareceu. Aquele momentosinho pode durar apenas alguns segundos, mas é
o suficiente para você esquecer que tem filho, mulher, marido, contas, 
documento para despachar...

Naquele momento, sentado em uma pedra diante do mar, acabou. Aquele 
momento olhando para o mar, as águas cintilando em baixo do sol brilhando, 
a linha do horizonte lá no fundo e esse olhar perdido de tudo...Uau! O impacto
daquele instante varre completamente seu ego até surgir o próximo 
pensamento: "tenho uma conta para pagar segunda-feia", "como será que está 
fulano agora?" "onde ela está", "ela está com quem?" Mas naqueles três 
segundos onde não havia tempo - tempo é memória, é pensamento, 
é sociedade, é cultura, é história - não havia nada disso! O corpo pode estar
doente, mas ali, por três segundos, não tem corpo doente; você tem o 
diagnóstico terminal mas por três segundos você é imortal porque você não
existe como ego com um corpo, como uma história, como um nome.

É isso que vocês estão buscando, viu menina? Você está buscando algo além
desse mundo, além desse corpo, dessa história, desse nome que sua mãe ou
seu pai deu - é só um nome. Mas você não sabe que está querendo isso porque
ninguém o informou. Eu estou aqui para informá-la disso: você nasceu para
realizar Deus, para realizar essa coisa do outro mundo que não é do outro 
mundo, essa "Coisa" onde o mundo aparece e desaparece. Aqui você 
descobre essa Felicidade! Vocês estão vendo essa foto? Esse é meu Guru, o 
meu Mestre, aquele  que me deu essa visão. Foi ele que me fez ver Isso, ele me
fez ver que eu sou Felicidade!

Lá naquela pedra, sentada olhando o mar, a sua felicidade não estava do lado
de fora. O impacto daquele panorama sobre seu ego foi tão forte que o 
desalojou temporariamente. Isso que é Meditação: quando seu ego está 
desalojado, desempregado, aposentado. Quando você está livre de você 
é que você é feliz porque você é um problema sério para si mesmo. 

Quando você está  fora de si, você está no Ser, você está na Consciência,
está com Deus, está na Verdade, nessa imensidão atemporal. Isso que é
Meditação! Ela sinaliza esse lugar, esse estado real de Ser no qual você
não está. Você e sua história, você e sua cultura, você e esse medo, 
tudo isso é uma grande balela, é uma grande ilusão.

Vocês conhecem poço, né? Cidade interiorana tem muito poço. Você quer
água, então vai ao poço tirar água de lá. Se ele ficar abandonado por 
algum tempo e você vai voltar a usá-lo, você precisa esvaziá-lo. Mas na
medida em que você vai tirando a água velha, uma nova água vai brotando,
então você tem que tirar  bem rápido. Depois que você tira toda a água velha,
aí então, você fica tranquilo porque a água que vem é totalmente nova.

O  conteúdo da mente é um conteúdo velho como a água do poço abandonada:
só tem bobagem (para não dizer lixo!). Você tem que esvaziar esse  poço.
Um dia, eu ouvi a expressão "isso parece uma lavagem cerebral" e concordei,
porque, realmente, é algo bem parecido. Na mente só tem besteira, só tem lixo,
não tem uma coisa nova, fresca, limpa, é só velharia, recalque, traumas, medos,
lembranças, dores, é só passado traumático, é só lixo. Não há um olhar novo, 
um sentir novo, um pensar novo. Pensamento é sempre velho, não existe uma 
nova maneira de pensar, de sentir, de viver, de sorrir, de chorar, de amar.

Seu choro é falso, seu riso é falso, o seu amar é falso, o seu odiar e a sua raiva
também são falsos. Eu sei que é desanimador, mas é assim: no ego tudo é falso.
Quem é Você? A grande maioria não está preocupada com isso, com essa 
pergunta. O que elas querem é o que todos querem. As pessoas crescem, 
recebem uma sugestão dos pais para uma linha de estudos, para se 
formarem em alguma coisa, para trabalharem em uma profissão, para seguir 
uma carreira, casar, ter dois filhos ou meia dúzia,  comprar um apartamento, 
um carro, ganhar na loteria... as pessoas querem isso! E depois morrer, é
claro. Então fazem um plano de saúde pois sabem que, infelizmente, terão que
morrer, mas dá para tentar adiar. É isso! É só isso que as pessoas querem, que
todos querem...

É interessante porque, para alguns, isso não basta. Na verdade, eles estão 

revoltados com essa história: "não é possível que seja só isso, tem que ter 
algo além disso!" Mas, se você não está preocupada com isso, essa fala
não faz sentido nenhum! É como você oferecer um comprimido para dor de
cabeça para quem não está sentindo dor. Essas falas são assim: Para que elas
façam sentido, é preciso ter alguma coisa aí dentro de você que esteja 
enfastiada, que perceba que está faltando alguma coisa.

 *Transcrito a partir do trecho de uma fala de um encontro em João Pessoa em abril de 2016.


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