segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Sobre a Verdade – Satya

http://eternalis.wordpress.com/2009/06/22/
Abordarei primeiramente a Verdade, pela razão mesma de ser do Ashram Satyagraha [1], que é procurar a Verdade e esforçar-se para colocá-la em prática.
A palavra Satya (Verdade) vem de Sat, que significa ser.  Na realidade, não existe nada a não ser a Verdade. É por isso que Satya ou Verdade talvez seja o nome mais importante para Deus. Com efeito, dizer que a Verdade é Deus é mais certo que dizer que Deus é a Verdade. Muitos não imaginam nada além de um soberano ou de um general; os nomes de Deus como Rei dos reis ou Todo-Poderoso são de uso corrente e permanecem entre nós. Se, no entanto, refletimos um pouco mais profundamente, vemos que Sat ou Satya é, para designar Deus, o nome mais exato e que possui um sentido mais completo.
Onde está a Verdade está, também, o conhecimento que é verdadeiro. Onde não está a verdade não podemos encontrar o conhecimento verdadeiro. É por isso que associamos a palavra chit, conhecimento, àquela de Deus. E onde se encontra o conhecimento verdadeiro há sempre a felicidade (ananda[2], e não há lugar para a dor. A verdade sendo eterna, também a felicidade que dela deriva o é. É por isso que conhecemos Deus sob o nome de Sat-Chit-Ananda. É o que reúne em si a Verdade, o Conhecimento e a Felicidade.
Somente a devoção a esta Verdade justifica a nossa existência. A Verdade deve ser o centro de toda nossa atividade. Ela deve ser o sopro da nossa vida. Quando o peregrino chega a esta etapa do caminho que percorreu, ele descobre sem nenhum esforço as outras regras da vida e a elas se amolda instintivamente. Mas sem Verdade será impossível observar na existência algum princípio ou alguma regra.
Crê-se, de forma geral, que para seguir a lei da Verdade é suficiente dizer a verdade. Em nosso ashram devemos dar à palavra satya, verdade, uma significação mais profunda. A Verdade deve manifestar-se em nossos pensamentos, em nossas palavras e em nossas ações. Para aquele que realizar a Verdade em toda a sua plenitude nada mais resta a aprender, pois todo o conhecimento está necessariamente ligado à Verdade. O que não estiver neste campo não é Verdade e, consequentemente, não é conhecimento verdadeiro. Ora, não podemos ter paz interior sem o conhecimento verdadeiro. Uma vez que apliquemos tal critério infalível da Verdade, poderemos discernir, imediatamente, o que vale a pena ser feito, ou ser visto, ou lido.
Mas como realizar esta Verdade, que lembra um pouco a pedra filosofal ou a vaca inesgotável? 
Chega-se, diz a obra Bhagavad Gita, a uma devoção na qual se consagra tudo ao espírito, e se vê com indiferença todos os outros interesses que a vida pode oferecer. Entretanto, apesar de toda esta devoção, o que parece verdade a um parece frequentemente um erro a outro. Que isso não perturbe a procura. Se fizermos um esforço sincero, poderemos perceber que as verdades diferentes na aparência são inúmeras folhas que parecem diferentes, mas que são de uma mesma árvore. 
 Autor: Ghandi

Como Diria Blavatsky - Canção de Jorge Vercillo

http://semeadoresdoamor.zip.net/arch2011-04-01_2011-04-30.html

Letra da Música “Como Diria Blavatsky
Não sei olhar pra mim
Sem ser no espelho
Talvez por que não queira descobrir
De onde vim, quem sou
Mas ao me deparar contigo,
Eu lembro de um tempo

De um tempo em que os humanos
Não escravizavam os animais
De um tempo em que entendíamos
Que somos seres imortais

Do outro lado da Galáxia
Era você o meu mentor
Brincando, assim me preparava
Pro ouro e para dor dessa missão
Que eu mesmo escolhi

E antes de eu “descer” me avisou:

“.... – Você não vai saber por quê está ali
- Você não vai saber lidar
Com seu poder
- Nem mesmo vai lembrar quem é
Nem de onde vem....”

Mas hoje, de algo em seu olhar
Eu me encontrei
Você me faz lembrar que somos Deuses
Caídos na terceira dimensão

Foi nossa escolha então
E porque não dizer que temos tempo
Pra Tudo (3x)
 Link para Ouvir “Como Diria Blavatsky

A ROSA DE PARACELSO


Em sua oficina, que ocupava os dois aposentos do porão, Paracelso pediu a seu Deus, a seu indeterminado Deus, a qualquer Deus, que lhe enviasse um discípulo. A tarde caía. O escasso fogo da lareira projetava sombras irregulares. Levantar-se para acender a lamparina de ferro era demasiado trabalho. Paracelso, distraído pelo cansaço, esqueceu sua súplica. A noite apagara os alambiques empoeirados e o atanor [2] quando alguém bateu à porta. O homem, sonolento, levantou-se, subiu a breve escada em caracol [3] e abriu uma das folhas. Entrou um desconhecido. Também estava muito cansado. Paracelso lhe indicou um banco; o outro se sentou e esperou. Durante algum tempo não trocaram palavra.
O mestre foi o primeiro a falar.
- Lembro-me de rostos do Ocidente e de rostos do Oriente - disse, não sem certa pompa. Não me lembro do teu. Quem és e o que queres de mim?
- Meu nome é o de menos - replicou o outro.  - Três dias e três noites caminhei para entrar em tua casa. Quero ser teu discípulo. Tudo o que possuo, trago para ti.
Puxou um taleigo e emborcou-o sobre a mesa. As moedas eram muitas e de ouro. Fez isso com a mão direita. Paracelso lhe dera as costas para acender a lamparina.[4] Quando se virou, percebeu que a mão esquerda segurava uma rosa. A rosa o perturbou.[5]
Recostou-se, uniu as pontas dos dedos, e disse:
- Acreditas que sou capaz de elaborar a pedra que transforma todos os elementos em ouro e me ofereces ouro. Não é ouro o que me interessa, e se o ouro te interessa, nunca serás meu discípulo.
- O ouro não me interessa - respondeu o outro. Estas moedas não são mais que uma prova de meu desejo de trabalhar. Quero que me ensines a Arte. Quero percorrer a teu lado o caminho que conduz à Pedra.
Paracelso disse com vagar:
- O caminho é a Pedra. Se não compreendes estas palavras, ainda não começaste a compreender. Cada passo que deres é a meta.
O outro fitou-o com receio. Disse com outra voz:
- Mas existe uma meta?
Paracelso riu.
- Meus detratores, que não são menos numerosos que tolos, dizem que não e me chamam de impostor. Não lhes dou razão, mas não é impossível que seja uma ilusão. Sei que “existe” um Caminho.
Houve um silêncio, e o outro disse:
- Estou disposto a percorrê-lo contigo, mesmo que tenhamos de caminhar muitos anos. Deixa-me atravessar o deserto. Deixa-me divisar mesmo de longe a terra prometida, ainda que os astros não permitam que eu a pise. Quero uma prova antes de empreender o caminho.
- Quando? - disse Paracelso inquieto.
- Agora mesmo - disse o discípulo com brusca determinação.
Haviam começado a conversa em latim; agora, falavam alemão.
O rapaz ergueu a rosa no ar.
- Corre - disse - que és capaz de queimar uma rosa e fazê-la ressurgir da cinza, por obra da tua arte. Deixa-me ser testemunha deste prodígio. É o que te peço, e depois te darei minha vida inteira.
- És muito crédulo - disse o mestre. Não tenho uso para a credulidade; exijo a fé.
O outro insistiu.
- Precisamente por não ser crédulo quero ver com meus olhos a aniquilação e a ressurreição da rosa.
Paracelso pegara a rosa e brincava com ela enquanto falava.
- És crédulo - disse. Dizes que sou capaz de destruí-la?
- Ninguém é incapaz de destruí-la - disse o discípulo.
- Estás enganado. Imaginas, porventura, que alguma coisa possa ser devolvida ao nada? Imaginas que o primeiro Adão no Paraíso poderia ter destruído uma única flor ou um talo de relva?
- Não estamos no Paraíso - disse o jovem, teimoso -; aqui, sob a lua [6], tudo é mortal.
Paracelso se erguera.
- Em que outro lugar estamos? Acreditas que a Divindade é capaz de criar um lugar que não seja o Paraíso? Acreditas que a Queda é outra coisa que não ignorar que estamos no Paraíso? [7]
- É possível queimar uma rosa - disse o discípulo, desafiador.
- Ainda há fogo na lareira - disse Paracelso. Se atirasses esta rosa às brasas, acreditarias que foi consumida e que a cinza é verdadeira. Digo-te que a rosa é eterna e que apenas sua aparência pode se transformar. Bastaria uma palavra minha para que voltasses a vê-la.
- Uma palavra? - disse o discípulo, estranhando. - O atanor está apagado e os alambiques estão cheios de pó. Que farias para que reaparecesse?
Paracelso olhou para ele com tristeza.
- O atanor está apagado - repetiu - e os alambiques estão cheios de pó. Neste ponto de minha longa jornada utilizo outros instrumentos.
- Não ouso perguntar quais são - disse o outro, com astúcia ou humildade.
- Falo do utilizado pela divindade para criar os céus e a terra e o invisível Paraíso em que estamos e que o pecado original nos oculta. Falo da Palavra que ensina a ciência da Cabala.
O discípulo disse com frieza:
- Peço-te a mercê de mostrar-me o desaparecimento e o aparecimento de uma rosa. Para mim não faz diferença que utilizes alambiques ou o Verbo.
Paracelso refletiu. Depois disse:
- Se eu o fizesse, dirias que se trata de uma aparência imposta pela magia de teus olhos. O prodígio não te daria a fé que procuras. Deixa, pois, a rosa.
O jovem o fitou, sempre receoso. O mestre ergueu a voz e lhe disse:
- Além disso, quem és tu para entrar na casa de um mestre e exigir dele um prodígio? Que fizeste para merecer semelhante dom?
- O outro replicou, trêmulo:
- Sei que nada fiz. Peço-te em nome dos muitos anos que passarei estudando à tua sombra que me deixes ver a cinza e depois a rosa. Não te pedirei mais nada. Acreditarei no testemunho dos meus olhos.
Num gesto brusco, empunhou a rosa que Paracelso deixara sobre a mesa e lançou-a às chamas.  A cor sumiu e restou somente um pouco de cinza. Durante um instante infinito esperou as palavras e o milagre.
Paracelso não se movera. Disse com curiosa singeleza:
- Todos os médicos e boticários da Basileia afirmam que sou um embuste. Talvez estejam certos. Aí está a cinza que foi a rosa e que não a será.
O rapaz sentiu vergonha. Paracelso era um charlatão ou um mero visionário, e ele, um intruso, transpusera sua porta e agora o obrigava a confessar que suas famosas artes mágicas não existiam.
Ajoelhou-se e lhe disse:
- Agi de forma imperdoável. Faltou-me a fé, que o Senhor exigia dos fieis. Deixa que eu continue vendo a cinza. Voltarei quando estiver mais preparado e serei teu discípulo, e no fim do caminho verei a rosa.
Falava com genuína paixão, mas essa paixão era a piedade que lhe inspirava aquele velho tão venerado, tão agredido, tão insigne e afinal tão oco. Quem era ele, Johannes Grisebach, para descobrir com mão sacrílega que por trás da máscara não havia ninguém?
Deixar-lhe as moedas de ouro seria uma esmola. Recolheu-as ao sair. Paracelso o acompanhou até o pé da escada e lhe disse que sempre seria bem-vindo naquela casa. Ambos sabiam que não tornariam a ver-se.
Paracelso ficou só. Antes de apagar a lamparina e de sentar-se na cansada poltrona, recolheu o tênue punhado de cinzas na mão côncava e disse uma palavra em voz baixa. A rosa ressurgiu.

Autor: Jorge Luis Borges

Ver notas explicativas do texto no link abaixo.

UM ELEMENTO ESSENCIAL DA EXPERIÊNCIA ZEN

http://energymuse.wordpress.com/2012/07/18/last-day-of-our-facebook-contest-with-prana/

O fato de que a percepção não distorcida e não-cerebral da realidade constitui um elemento essencial da experiência Zen é expressado muito claramente na história que conta a conversa de um mestre com um monge:
“Você faz algum esforço para tornar-se disciplinado na verdade?”
“Sim.”
“Como você se exercita nisso?”
“Quando tenho fome, eu como; quando estou cansado, eu durmo”.
“Isto é o que todo mundo faz; podemos dizer então que todos estão fazendo o mesmo exercício?”
“Não.”
“Por quê?”
“Porque, quando eles comem, eles não comem, mas estão pensando em várias outras coisas, e assim permitindo-se ficar perturbados; quando eles dormem, eles não dormem, mas sonham com mil e uma coisas. É por isso que eles não são como eu.”

Fonte: D.T. Suzuki, “Introduction to Zen Buddhism”, p. 86.