quarta-feira, 7 de novembro de 2012

UMA DAS CHAVES: CONTEMPLAR A NATUREZA


CRÉDITO DA FOTO: http://lialendoavida.blogspot.com.br/2011_08_01_archive.html



Dependemos da natureza não só para nossa sobrevivência física.
Também necessitamos da natureza para que nos ensine o caminho de casa, o caminho de saída da prisão de nossas mentes. Temos estado perdidos no fazer, no pensar, no recordar, no antecipar: estamos perdidos em um complexo labirinto, em um mundo de problemas.

Temos esquecido o que as rochas, as plantas e os animais sabem.
Nós temos esquecido de ser: de ser nós mesmos, de estar em silêncio, de estar onde está a vida: Aqui e agora.

Quando diriges tua atenção para algo natural, para algo que veio da existência sem a intervenção humana, sais da prisão do pensamento conceitual e, em certa medida, participas do estado de conexão com o Ser e o que existe de natural. 

Levar tua atenção a uma pedra, uma árvore ou a um animal não significa pensar neles, senão simplesmente percebe-los, dar-se conta deles.

Então se te transmite algo de sua essência, podes sentir a quietude que está aí, e, sentindo-a surge em ti essa mesma quietude. Sentes o quão profundamente descansa o Ser, completamente unificado com o que és e com o lugar onde estás.

Ao dar-te conta disto, tu também entras em um lugar de profundo repouso dentro de ti mesmo.

Quando caminhares ou descansares na natureza, honra esse reino permanecendo ali plenamente. Fica sereno. Olha. Escuta. Observa como cada planta e animal são completamente eles mesmos.

Diferente dos humanos, não estão divididos em dois. Nem vivem através de imagens mentais de si mesmos, por isso não tem que preocupar-se de proteger e potencializar essas imagens.


O cervo é ele mesmo. O narciso é ele mesmo. Todas coisas naturais, além de estarem unificadas consigo mesmas, estão unificadas com a totalidade.

Não se separaram da trama da totalidade, reclamando uma existência separada; "eu" e o resto do universo.

A contemplação da natureza pode libertar-te do eu, o grande criador de conflitos.

Percebe os múltiplos sons sutis da natureza: o sussurro das folhas ao vento, a caída das gotas de chuva, o zumbido de um inseto, a primeira canção do pássaro ao amanhecer.

Entrega-te completamente ao ato de escutar. Mas além dos sons, há algo maior: uma sacralidade que não pode ser compreendida através do pensamento.

Tu não criaste teu corpo, e tão pouco és capaz de controlar as funções corporais. Em teu  corpo opera uma inteligência maior que a mente humana. É a mesma inteligência que sustenta toda a natureza.

Para aproximar-te ao máximo desta inteligência, sê consciente de teu próprio campo energético interno, sente a vida, a presença que anima o organismo.

A alegria e a necessidade de brincar de um cachorro, seu amor incondicional e sua disposição de celebrar a vida em qualquer momento, contrasta  agudamente com o estado interno do seu dono deprimido, ansioso, carregado de problemas, perdido no pensamento, ausente do único momento e lugar que existem: o Aqui e o Agora.

Alguém se pergunta; vivendo com essa pessoa, como consegue o cachorro manter-se são, tão alegre?

Quando percebes a natureza somente através da mente, do pensamento, não podes sentir sua plenitude de vida, seu ser. Só vês a forma e não és consciente da vida que a anima, do mistério sagrado. O pensamento reduz a natureza a um bem de consumo a um meio de conseguir benefícios, conhecimento, ou algum outro propósito prático. O antigo bosque se converte em madeira, o pássaro, em um projeto de investigação, a montanha, em localização de uma mina ou em algo a conquistar.

Quando percebes a natureza, permites que haja espaços sem pensamento, sem mente. Quando te aproximas da natureza deste modo, ela te responderá e participará na evolução da consciência humana e planetária.

Nota o presente que está na flor, o quanto ela está entregue à vida.
A planta que tens em casa... Tem-na olhado detidamente alguma vez? Tens permitido que este ser familiar e no entanto misterioso que chamamos planta te  ensine seus segredos? Tens te dado conta do quanto pacífica que ela é, de que está rodeada de um campo de quietude? No momento em que te das conta da quietude e da paz que emana, esta planta se converte em tua mestra.


Observa um animal, uma flor, uma árvore e olha como descansam no Ser. Cada um deles é ele mesmo. Tem uma enorme dignidade, inocência, santidade. Sem embargo, para poder ver isto, tens que ir mais além do hábito mental de nomear e etiquetar. No momento em que olhas  mais além das etiquetas mentais, sentes a dimensão inefável da natureza, que não pode ser compreendida pelo pensamento nem percebida pelos sentidos. É uma harmonia, uma sacralidade que, além de penetrar a totalidade da natureza, está dentro de ti.

O ar que respiras é natural, como o próprio processo de respirar. Dirige a atenção a tua respiração e dá-te conta de que não és tu que respira. A respiração é natural. Se tiveres que lembrar-te de respirar, logo morrerias, e se tentares deixar de respirar, a natureza prevaleceria. 

Reconecta com a natureza do modo mais íntimo e interno percebendo tua própria respiração e aprendendo a manter tua atenção nela. Esta é uma prática muito curativa e energizante. Produz uma mudança de consciência que te permite passar do mundo conceitual do pensamento ao reino interno da consciência não condicionada.

Necessitas que a natureza te ensine e te ajude a reconectar com teu Ser. Mas tu não és o único necessitado: ela também necessita de ti. Não estás separado da natureza. Todos somos parte da Vida Una que se manifesta em incontáveis formas em todo o universo, formas que estão todas elas, completamente interconectadas. 

Quando reconheces a santidade, a beleza, a incrível quietude e dignidade em que uma flor e uma árvore existem, tu acrescentas algo a esta flor e esta árvore. Através de teu reconhecimento, de tua consciência a natureza chega a conhecer-se a si mesma. Alcança conhecer sua própria beleza e sacralidade através de ti!

  Um grande espaço silencioso contém em seu abraço a totalidade do mundo natural. E também contém a ti. Só mediante a quietude interior tens acesso ao reino da quietude em que habitam rochas, plantas e animais. Só quando tua mente ruidosa fica em silêncio podes conectar profundamente com a natureza e curar a separação criada pelo pelo excesso de pensamento. 

Pensar é uma etapa da evolução da vida. A natureza existe em uma quietude inocente que é anterior à aparição do pensamento. A árvore, a flor, o pássaro, a rocha, não são conscientes de sua própria beleza e santidade. Quando os seres humanos se aquietam, vão mais além do pensamento.

A quietude que estás mais além do pensamento contém uma dimensão plena de conhecimento, de consciência. A natureza pode levar-te à quietude. Este é um presente para ti. Quando percebes a natureza e te unes a ela no campo da quietude, ela se enche de tua consciência. Este é o teu presente à natureza.

Através de ti, a natureza toma consciência de si mesma. É como se a natureza estivesse esperando por ti durante milhões de anos.

FONTE: Livro: O Silêncio Fala - Capítulo 7 - A Natureza
Autor: Eckhart Tolle

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