sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O UNO E OS MUITOS




Ao término de um período de  
decadência sobrevém o ponto de


mutação. A luz poderosa que fora
banida ressurge.

Há movimento, mas este não é gerado pela força...
O movimento é natural, surge espontaneamente
Por esta razão, a transformação do antigo
torna-se fácil.

O velho é descartado, e o novo é introduzido.
Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando
daí, portanto, nenhum dano.

I Ching


Nesta época em que vivemos uma crise global de valores e em que observamos um movimento de mudança para um paradigma, em que a arte, a ciência e a espiritualidade não estarão separados mas convergirão dentro de um mesmo modo de sentir  a realidade, é bastante pertinente refletir sobre este texto de Fritjof Capra, que ainda está coerente com a realidade atual e é bastante esclarecedor sobre a crise mundial que estamos vivendo e a direção que ela pode tomar  :

"[...] Segundo Beatrice Bruteau, podem-se interpretar as diferentes imagens do Divino como um reflexo de soluções diferentes para o problema metafísico fundamental de "o Uno e os Muitos. O deus masculino representa tipicamente o Uno, que pode existir sozinho, independe e absoluto, ao passo que os muitos existem  somente na vontade de Deus, dependentes e relativos.
 Na sociedade humana, tal situação é exemplificada pela convencional relação pai-filho. A paternidade, como sublinha Bruteau, cracteriza-se pela separação. O pai em momento nenhum está fisicamente unido ao filho, e a relação tende a ser a de confrontação e amor condicional. 
Quando essa imagem do pai é aplicada a Deus, ela evoca naturalmente as noções de obediência, lealdade e fé, e inclui, com frequência, alguma imagem de desafio, com subsequentes prêmio ou punição.
 A imagem da Deusa, por outro lado, segundo Bruteau, representa uma solução do problema Uno/Muitos em termos de união e mútua consubstanciação, com o Uno manifesto  nos Muitos e os Muitos habitando no seio do Uno. Em tal relação, a qual não é imposta ou alcançada, mas organicamente dada, não existe qualquer sentido de oposição entre Deus e o mundo.
 Sua relação é caracterízada por harmonia, ternura e afeição, em vez de desafio e drama. Tal imagem é claramente maternal, refletindo o amor incondicional da mãe, em que mãe e filho estão fisicamente unidos e participam juntos da vida.
Com o renascimento da imagem da Deusa, o movimento feminista está criando também uma nova auto-imagem para as mulheres, juntamente com novas formas e um novo sistema de valores, Assim, a espiritualidade feminista terá uma influência profunda tanto sobre a religião e a filosofia como sobre nossa vida social e política.
Uma das contribuições mais radicais que os homens podem oferecer para o desenvolvimento da consciência feminista coletiva será envolverem-se plenamente na criação dos filhos desde o momento do nascimento para que eles possam crescer com a experiência do potencial humano total que é inerente às mulheres e aos homens. John Lennon, sempre um passo à frente do seu tempo, fez justamente isso nos últimos cinco anos de sua vida. [...]" 
 Fritjof Capra, O Ponto de Mutação - A Ciência, a Sociedade e a Cultura Emergente. Ed. Cultrix, São Paulo, 1982. Tradução de Álvaro Cabral. p.406/407



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