terça-feira, 31 de maio de 2011

NOVAS FORMAS DE CONSTRUIR E MORAR - ARQUITETO GERNOT MINKE

Casa de Gernot Minke
O MESTRE DO BARRO

O trabalho de vida de Gernot Minke se expressa em sua casa na Alemanha, uma escultura de terra, harmonia e visão.
É um desafio descrever ao motorista de táxi a casa e o bairro de Gernot Minke, muito menos convencê-lo a parar quando encontramos a rua. Isso porque a casa é quase invisível da rua e parece um monte de terra coberto por mato e flores. A entrada estilo Hobbit é a única indicação de que alguém vive ali.
Nesse lindo dia de primavera, o jardim está cheio de pássaros e o pequeno lago está cheio de vida. As plantas no paisagismo em volta da casa se misturam com a grama e flores que cobrem o teto e fica difícil distinguir onde o chão termina e o teto começa. Todo o ecossistema está pleno, se beneficiando do telhado de Gernot.
A casa do alemão é parte de um distrito que no passado era considerado o mais indesejável por causa da proximidade das pequenas indústrias locais. Por isso, a cidade aceitou rapidamente a proposta de Gernot de redesenhar e verdejar a área – um modelo para desenvolvimento ecológico – no começo dos anos 90. Os códigos requerem que todas as casas construídas na região tenham tetos verdes e grades e muros foram proibidos, apenas barreiras naturais podem ser construídas. As estradas não podem ser seladas, garantindo que a evacuação da chuva, e carros devem ser estacionados em uma área longe das casas. O resultado foi um oásis verde no meio do subúrbio. O condomínio é quase irreconhecível à distância apesar das 35 residências, a maioria de famílias sem crianças.
Escultura em espiral
Dentro da modesta entrada da casa de Gernot Minke, o espaço abre para um domo volumoso e pouco mobiliado de 4 metros de altura. Tijolos de barro circulam, camada por camada, até um teto de vidro. Deste domo central, a casa de 216 metros quadrados inclui ainda 6 outros domos, dois forrados de madeira e outros quatro com variações de barro. O plano da casa, parecido com uma colméia, é uma escultura em todo o significado da palavra. Os 27 anos de estudo e experimentação de Gernot com construções de terra possibilitaram a criação de um lugar que não só complementa o ambiente como verdadeiramente faz parte dele.
Muitas pessoas associam a construção com terra a climas áridos, mas o arquiteto desenvolveu uma fórmula que funciona no clima úmido da Alemanha central. A chave desta fórmula é o teto verde formado de uma camada de pedra-algodão para vedação térmica, uma pele resistente à água e raízes, um substrato leve e uma camada final de terra e lava, solo ideal para o crescimento de grama e flores. Essa camada dá vedação térmica e protege contra elementos da natureza, enquanto providencia a difusão necessária de vapor para regular a umidade.
Gernot, professor da Universidade de Kassel e diretor do Laboratório de Pesquisas Para Construção Experimental, é reconhecido como o especialista europeu em construção com terra e argila. Há 27 anos liderando o programa de pesquisas da universidade, ele guia estudantes enquanto eles constroem dentro e fora do campus. Ele estressa que a terra é barata, saudável, não poluente e está disponível em grande escala na maior parte do mundo. O seu livro, The Earth Construction Handbook (WIT Press, 2000), é a bíblia para construção natural contemporânea e milhares de pessoas já atenderam seus seminários e cursos.
Benefícios lindos
A arte de Gernot Minke com construções de argila ganha um novo significado no banheiro e no jardim de sol, onde ele enrolou argila e circundou os quartos como uma cobra para formar as paredes. O uso de argila nos banheiros não é apenas um desafio visual, o alemão garante que também é higiênico. Espelhos em um banheiro azulejado embaçam depois de um banho quente e demoram de 30 a 60 minutos para dissipar num ambiente fechado. Em contraste, os espelhos no banheiro com paredes de barro, em condições similares, demoram de 3 a 6 minutos. Isso porque a argila absorve toda a umidade quando ela é mais alta que 50% e dissipa quando está abaixo de 50%.
O arquiteto desenvolveu um sistema único de cobra no banheiro, em que ele coloca barro leve através de uma bomba ou funil dentro de uma mangueira de algodão. Essa mangueira é amarrada e apertada gentilmente até que o barro saia e forme camadas finas em cima do tecido. Quando empilhadas, essas mangueiras aderem umas as outras e podem ser facilmente moldadas em esculturas.
No jardim de sol, o método usado é o Cob, maneira antiga e altamente testada de construção com barro, provavelmente mais velha do que as construções de tijolos de barro (adobe). Barro, normalmente misturado com palha e fibras, é jogado ou pressionado na estrutura. Apesar de ser trabalhoso, o método é usado no mundo inteiro.
A maioria das paredes de argila não-queimadas de Gernot Minke não tem nenhum acabamento, mas a biblioteca usou uma lavagem de cal e soro de leite. O soro, tirado de vacas jovens, tem uma consistência entre o iogurte e o queijo cottage. O cal reage com o soro de leite e forma um isolante contra água.
Um ventre de terra
Quando não está ensinando na universidade, Gernot trabalha em seu escritório de arquitetura em casa. Ele recentemente completou um domo em um jardim de infância de 36 pés e os professores estão impressionados com o efeito positivo nas crianças. Gernot sentiu o mesmo efeito ao viver no domo da sua casa, que ele compara a um ventre de terra. “A conexão com o céu dentro do domo é inspiradora”, diz ele. “Ele também dá uma sensação de paz e segurança.”
Além das suas construções artísticas, Gernot Minke ainda encontra tempo de pintar quadros enormes inspirados em imagens de sonhos influenciados pela arte dos índios norte-americanos. Suas pinturas fazem ainda mais bonitas as paredes de argila da casa, adicionando dimensões coloridas e espirituais.
Por que construir com terra?
Depois de 25 anos de pesquisa, Gernot Minke tem uma grande lista de benefícios da argila, incluindo a absorção e distribuição natural de umidade. Argila não queimada absorve e emite vapor para manter o nível de relatividade de umidade dentro da casa a 50%, flutuando apenas 5 ou 10% durante o ano, mesmo em climas úmidos. Isso promove um ambiente saudável, garantindo mais umidade que o normal nos invernos e menos no verão.
Esse tipo de argila também retém calor quando está frio fora e solta calor quando está quente fora, mantendo o conforto térmico ideal sem a necessidade de ar condicionado ou ventiladores. Para o meio ambiente, argila requer menos de 1% de energia para produção, transporte e uso quando comparada a tijolos ou concreto. Solos de argila ou terra estão normalmente presentes no local da construção, reduzindo o custo de materiais. Além do mais, construções assim podem ser feitas pelos próprios donos da casa, no melhor estilo faça você mesmo.
Problemas? Argila muda de local pra local e é preciso uma preparação correta da mistura de argila, areia, pó de pedra e água. Argila encolhe quando seca e não é a prova de água, mas pode ser facilmente protegida usando um grande número de rebocos naturais ou banhos de cal, adicionando óleo de linhaça à mistura ou criando uma compactação pesada e trabalhando a argila molhada com um metal para dar brilho.
Outra solução é providenciar grandes tapeçarias que protegem as paredes dos elementos naturais, reduzindo a necessidade de rebocos e proteções contra a água.
 
Abril 2004
Traduzido do texto de Laurie E. Dickson 

FONTE: http://www.ecocentro.org/blog/?p=232 


Outros projetos de Minke:













Tenho observado o esforço coletivo de amplitude univrsal no sentido de pensar e executar novas maneiras de habitar. Este trabalho de Gernot Minke é um exemplo da maravilhosa criatividade do ser humano neste sentido.

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