quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A PAZ


"...Em resumo, o principal obstáculo à paz, o maior dos demônios é a nossa própria mente, este reservatório de emoções passadas, que se derrama sem parar sobre o presente; este “pacote de memórias” que denominamos ego, ou eu.  Quem sofre ou é infeliz é sempre o eu e nossa identificação com o que não somos realmente.

     Que só o presente existe é um segredo bem guardado; o que era, não é mais; o que será, ainda não é; se vivermos eternamente em nossos arrependimentos e projetos, teremos que sofrer e passaremos ao largo do “segredo”... “Ora ao teu Pai que está aí, dentro do segredo”, na presença do que é presente.  São palavras do Evangelho e também palavras de cura...

      A morte não existe ainda, ela não é.  Só permanece este “Eu Sou”, que existe desde sempre e para sempre.  Não podemos ir para outro lugar, senão onde estamos; e onde nos encontramos aqui já estamos.  Por que procurar, em outra parte, a vida e a paz que nós somos, se a paz é nossa verdadeira natureza, não está por fazer?

  Trata-se, primeiramente, de conferir menos importância àquilo que nos “impede” de estar em paz; depois, não lhe dar importância alguma, se quisermos; e isto significa aderir, instante após instante, ao que é, com um espírito silencioso, uma mente serena, ou melhor, não identificados com as memórias e com as emoções que essas memórias provocam.


     Lembrar-se de que nossa verdadeira natureza está em paz é uma forma universal de oração.  Essa rememoração de nosso ser verdadeiro encontra-se, efetivamente, na base das práticas de meditação de várias culturas ou religiões (dhikr – prática islâmica; japa – modalidade de ioga; hesicasmo – seita antiga de místicos cristãos orientais, etc.).

           Temos medo de que?  De perdermos a cabeça, perdermos a alma, de não  sermos o que nossas memórias nos dizem que somos, não sermos coisa alguma do que pensamos ser?  Perdem-se as ilusões, os pensamentos, e fica somente o medo de morrer.  Se eu paro de me identificar com o que deve morrer, permaneço já naquilo que sou desde sempre.

     Não pode haver outro artesão da paz que não seja aquele cujo corpo está relaxado, que tem o coração livre e a mente pacificada.  Mesmo o nosso desejo de paz pode tornar-se uma tensão, um nervosismo, um obstáculo à paz, uma obrigação, um dever que se somará à infelicidade e à inquietação do mundo.

     Afirmar que estamos em paz não é negar nossos medos, nossas memórias, nossos sofrimentos...  é colocá-los em seus devidos lugares, na corrente insensata e tranqüila da verdadeira Vida..."
   
 Trecho de "A Paz" de Jean Yves Leloup
endereço eletrônico: http://www.jeanyvesleloup.com.br

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