Esta observação pode ser aplicada à todos os esforços de auto melhoria empreendidos com o auxílio de gurus, de meditações, da prática da ioga, da aceitação de si, da psicoterapia, e mesmo da existência conduzida totalmente no momento presente. Tudo que se aprende é que tais disciplinas contêm em si mesmas sua própria contradição, tanto quanto tentar se elevar do solo apoiando-se nos tornozelos.
E essa descoberta pode ter seu lado bom, pois nossa energia psíquica e física se encontra, assim liberada de tarefas impossíveis para poder se concentrar apenas no possível: poderemos então semear os grãos, colher os frutos, construir casas, cantar canções, fazer amor, e viver até que a morte nos interrompa.
E eu chamo a atenção sobre esse ponto para melhorar a sorte da humanidade? Estaria então em contradição comigo mesmo. Digo-o mais para que nos permitamos semear os grãos e colher os frutos, em toda liberdade. Nada a fazer quanto ao que seja melhor ou pior, progresso ou recuo.
Esses são juízos de valor e disse-se bem: "Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois sereis julgados do julgamento de que julgais e medir-vos-ão com a medida com que medis." E se disser agora: "mais isso também é um julgamento!" - ainda assim se elabora um outro julgamento. É melhor não julgar? Não, trata-se apenas de viver e morrer, dia e noite, de ir e vir, um estado de coisas onde o mal e o bem não podem ser isolados.
Alan Watts em:Tabu, p. 141-142. Tradução de Fernando de Castro Ferreira e Olavo de Carvalho.
Nota: De acordo com este posicionamento, para se auto realizar, basta viver, ou seja, semear o grão, colher o fruto, simples assim, mas... consciente de tudo que isto implica ....
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