segunda-feira, 10 de setembro de 2012

VAMOS GERAR CONSCIÊNCIA?

FONTE DA IMAGEM : http://vinyasakrama.blogspot.com.br/


A RESPIRAÇÃO
Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo do pensamento. Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas.
Alguns segundos bastam. Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem
nenhum esforço da nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam
longas é criá-las com freqüência para que nossas atividades diárias e nosso
fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços.
Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande
organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica
seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu
poderia recomendar uma ou duas atividades. "Não sei, não. Todos elas me
parecem muito interessantes.
Mas eu conheço esta: tome consciência da sua
respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um
ano e terá uma experiência transformadora bem mais forte do que a
participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça."
Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do
pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciência. Embora a
plenitude da consciência já esteja presente como o não-manifestado, estamos
aqui para levar a consciência a essa dimensão.
Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de
respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo.
Veja como o peito e o abdômen se expandem e se contraem ligeiramente
quando você inspira e expira. Basta uma respiração consciente para produzir
espaço onde antes havia a sucessão ininterrupta de pensamentos.
Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao
dia é uma maneira excelente de criar espaços na sua vida. Mesmo que você
medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática
adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixá-lo consciente.
O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos. 
Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos.
A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo.
Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem
esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto
de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo.
Muitas pessoas tem a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais
tomamos consciência da respiração, mais sua profundidade se restabelece
sozinha.
Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao
espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. "O
Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas
narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente."5 A palavra
alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sánscrito Atman, que
significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior
.
O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a
consciência da respiração é uma maneira muito eficaz de criar espaços na
nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de meditação
justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. O outro
motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes
fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor
felicidade". 
Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da
respiração como uma verdadeira meditação formal. No entanto, a meditação
formal não substitui o empenho em criar a consciência do espaço na sua vida
cotidiana.
Ao tomarmos consciência da respiração, nos vemos forçados a nos
concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação
interior, espiritual. Sempre que nos tornamos conscientes da respiração,
estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não
conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo.
A respiração consciente suspende a atividade mental. 
No entanto, longe de estarmos em transe ou semi despertos, permanecemos acordados e alerta.  Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade, a mesma coisa: o surgimento da consciência do espaço.

Trecho do livro "O Despertar de uma Nova Consciência - Eckhart Tolle