sábado, 31 de janeiro de 2015

O EU OBSERVADOR DE GURDJIEFF

 


Exercícios básicos para treinar a auto-observação

1) Procure relaxar a máscara facial quando conversar com alguém. Observe a tensão dos músculos desaparecendo e a máscara facial derretendo como se fosse feita de cera. Tente não alterar o curso da conversação. Pesquise, sem chamar atenção, se haverá modificações no comportamento da pessoa com quem você estiver conversando.
2) Escolha uma das situações abaixo para auto-observar-se:
  • a) diante de uma pessoa que você não gosta
  • b) assistindo televisão
  • c) praticando um esporte
  • d) tomando banho
  • e) esperando na fila do banco
3) Auto observe-se a cada 15m ao longo de alguns dias (uma semana é um prazo razoável) e anote suas constatações em um caderno. Procure descrever resumidamente seu estado físico, emocional e intelectual. Descreva-os objetivamente, como um observador imparcial, e evite fazer julgamentos a todo custo.
4) Depois de um período de auto observação, faça uma lista de seus hábitos. No dia seguinte, escolha um dos hábitos anotados e procure evita-lo ao longo de todo o dia. Não se esqueça de ser imparcial. Perceba que esse exercício busca fazer do hábito escolhido uma ferramenta para despertar o estado de auto-observação.
5) Ainda de posse da lista do exercício anterior, escolha um outro hábito e tente repeti-lo, ao longo de alguns dias, de forma totalmente consciente e nova, como se fosse a primeira vez que você estivesse fazendo aquilo. Perceba os detalhes que envolvem os gestos de seu corpo, suas emoções e pensamentos.
6) Ainda da posse da mesma lista, procure escolher um hábito que você sente que consome muito de sua energia. Dê preferência a hábitos de ordem corporal, como tiques nervosos do tipo, ficar batendo os dedos na mesa, ou balançando a perna, etc.. Uma vez detectado tal hábito (se é que você apresenta algum deste tipo) tente educar-se no sentido de não mais repeti-lo.
7) Tente ao longo de uma semana, fazer algo totalmente diferente de seus hábitos. Vá passear num parque, ou comer uma comida diferente, ou praticar algum esporte, qualquer coisa que não faça parte de sua rotina. Se você tiver disponibilidade, faça isso uma vez por dia, ao longo de toda a semana. Use esses momentos para observar a si mesmo.
8 ) Procure dar 15m de atenção a alguém que realmente não precisa. Num outro dia, tente fazer o mesmo com alguém de quem você não gosta ou tenta sempre evitar. Auto observe-se durante o processo.
9) Caminhe por uma região não muito movimentada. Comece a observar intensamente cada passo que você der. Aumente a qualidade e perfeição de cada passo, fazendo para isso, modificações sutis no ritmo, na forma como o equilíbrio se estabelece no caminhar, na forma como você coloca o pé no chão, nos movimentos dos braços, postura da cabeça, contração dos músculos da face, etc.. Note o quanto você consegue quebrar a mecanicidade do ato de andar. Tente fazer esse exercício utilizando-se de outras atividades rotineiras.
10) Antes das refeições, diga a seguinte frase, como se você estivesse fazendo um pedido ou uma oração: “eu desejo lembrar-me de mim mesmo”. Então, tente alimentar-se de forma consciente, mantendo a lembrança de si ativada. Procure sentir os alimentos como representantes dos reinos inferiores ao homem sendo incorporados em você e elevados pelo seu estado de auto-recordação ou consciência.
11) Arrume um saquinho de pano ou papel (melhor seria se você mesmo costurasse ou montasse um) e decida colocar dentro dele uma moeda de valor mais elevado, cada vez que você perceber que caiu em alguma emoção negativa de forma descontrolada. Faça isso ao longo de uma semana. No final do período, dê o dinheiro todo para um mendigo ou instituição de caridade.
Fonte:http://www.mortesubita.org/psico/textos-de-psicologia-bizarra/o-eu-observador-de-gurdjieff

AS MULHERES QUE EXPULSARAM O ESTADO ISLÂMICO DE KOBANI


curdas estado islâmico
 
  Os milicianos armados do EI (Estado Islâmico) terão que reformular uma de suas canções: “O Estado Islâmico permanece, o Estado Islâmico cresce”. Reconhecidos hoje como a maior ameaça fundamentalista do Oriente Médio, o EI acaba de sofrer um inesperado revés, depois de triunfar em consecutivas batalhas contra forças iraquianas e síria. Nesta segunda-feira (26/01), depois de 134 dias de resistência, a guerrilha curda, reunida nas Unidades de Proteção do Povo (Yekîneyên Parastina Gel – YPG), surpreendeu o mundo, expulsando as tropas do EI da cidade de Kobani, em território curdo situado no norte da Síria, junto à fronteira com a Turquia. Trata-se da derrota mais importante imposta sobre o EI na Síria desde sua aparição.
Nesta vitória, as mulheres curdas revolucionárias estão conscientes de seu papel e seu poder; estão participando ativamente na guerra em Kobani.
Impressionado com o que estava acontecendo, o antropólogo David Graeber, professor de Antropologia (London School of Economics), passou 10 dias em Cizire – um dos acampamentos em Rojava, zona ocupada pelo curdos ao norte da Síria. Junto com estudantes, ativistas e acadêmicos, ele teve a oportunidade de observar a democracia confederalista curda.
Esta forma de organização social está se tornando uma espécie de experimento que tem o objetivo de substituir o capitalismo e o Estado, uma nova forma de organização anarquista que se organiza e experimenta uma norma forma de se organizar socialmente enquanto luta contra o estado islâmico. Nesta nova forma de organização social as mulheres tem um papel social, tiveram aulas de feminismo e tomaram consciência de seu poder e seu papel como cidadãs. Estão participando bravamente da guerra e contribuíram fortemente para impor uma derrota inesperada e até improvável no pensamento do ocidente e do próprio estado islâmico.
De acordo com Graeber, a zona de Rojava é fundamentalmente anti-estado, anti-capitalista e radicalmente democrática. Uma notável experiência revolucionária na região, que separa o poder coercitivo da administração pública e obriga aulas de feminismo para toda população.  
Em entrevista publicada em artigo publicado em Outubro passado no “The Guardian”, durante a primeira semana dos ataques do EI a Kobani o jornalista perguntou a David Graeber :
Qual foi a coisa mais impressionante que testemunhaste em Rojava nos termos práticos desta autonomia democrática?
Existem tantas coisas impressionantes. Acho que nunca ouvi falar de nenhum outro lado do mundo onde tenha existido uma situação de dualidade de poder, onde as mesmas forças políticas criaram ambos os lados. Existe a “auto-administração democrática”, onde existem todas as formas e armadilhas de um Estado – Parlamento, ministros, e por aí –, mas criada para ser cuidadosamente separada dos meios do poder coercivo. Depois há o TEV-DEM (o Movimento da Sociedade Democrática), raiz das instituições, dirigido via democracia direta. No final – e isto é fulcral – as forças de segurança respondem perante as estruturas que seguem uma abordagem de baixo para cima, e não de cima para baixo. Um dos primeiros locais que visitamos foi a academia de polícia (Asayis). Todos tiveram que frequentar cursos de resolução de conflitos não violenta e de teoria feminista antes de serem autorizados a pegar numa arma. Os co-diretores explicaram-nos que o seu objetivo final é dar seis semanas de treino policial a toda a gente no país, para que em última análise se possa eliminar a polícia.
Com que cena te irás recordar da tua viajem a Cizire?
Existem tantas imagens impressionantes, tantas ideias. Gostei da disparidade entre o aspecto das pessoas e as coisas que diziam. Conhece-se alguém, um médico, que parece um militar sírio, vagamente assustador, de casaco de cabedal e expressão austera. Depois fala-se com ele e ele explica: “Bem, sentimos que a melhor abordagem à saúde pública é a prevenção, a maioria das doenças ocorre devido ao stress. Sentimos que se reduzirmos o stress, os níveis de doenças de coração, diabetes, e mesmo o cancro irão diminuir. Assim, o nosso plano final é reorganizar as cidades para terem 70% de espaços verdes…” Existem todos estes planos loucos e brilhantes. Mas depois vai-se ao médico ao lado e explica-nos que, graças ao embargo turco, não conseguem sequer obter equipamento ou medicamentos básicos, que todos os pacientes para diálise que não foram levados dali morreram… Esta disjunção entre as ambições e as incríveis e difíceis circunstâncias. A mulher que era efetivamente a nossa guia era uma vice-chanceler chamada Amina. A certa altura, pedimos desculpa por não termos trazido presentes melhores e ajudado a população de Rojava, que sofre sob o embargo. E ela disse:
 “No final, isso pouco importa. Temos a única coisa que ninguém nos pode dar. Temos a nossa liberdade. Vocês não. Quem me dera que houvesse uma maneira de poder dá-la”.