sexta-feira, 31 de outubro de 2014

HERÁCLITO FONTOURA SOBRAL PINTO (Outro brasileiro incorruptível)

Com a lei do Gerson tomando conta da"casa", vale a pena lembrar exemplos de brasileiros honestos, leais e de caráter que deveriam ser a regra e não a exceção. 
Para isto estou transcrevendo um trecho do livro:Corrupção, Mostra a Sua Cara da autoria de Marco Morel. (páginas 234 e 235.


"Se as leis fossem sempre justas e cumpridas, todo cidadão seria um Dr. Sobral. Ao longo de seus 98 anos de vida, foi um cumpridor intransigente da lei, não obediente defensor de governos.. Recusava dar um passo fora da legalidade. Um exemplo: quando foi decretado o Ato Institucional n. 5, em nome do moribundo Marechal-presidente Costa e Silva, em dezembro de 1968, o conhecido advogado, já com 75 anos, enviou-lhe uma carta, (publicada em jornais) que iniciava assim 'Cumprimentos devidos à sua alta dignidade e, também, à sua ilustre pessoa' e prosseguia:
'Através do referido ato, V. Exa. instituiu, em nossa pátria, a ditadura militar, contra a qual ninguém pode no momento, lutar eficientemente. Fui, sou e serei, homem do Direito, da Lei, da Justiça e da Ordem. Jamais conspirarei. Lutarei, porém, pela palavra verdadeira, enérgica e vibrante, contra a opressão que desceu sobre a minha pátria. Palavra franca, leal e desinteressada, que não quer Poder, posição e qualquer dignidade.administrativa e eletiva. Quero, apenas, ordem jurídica decente, digna e respeitadora da dignidade da pessoa humana, da liberdade individual e das liberdades públicas,princípios estes que estão varridos, no presente, da minha e da pátria de V. Exa.'
Quatro agentes da polícia federal foram até Sobra Pinto e deram-lhe ordem de prisão. Ele recusou-se a acatar a "determinação  ilegal" e a segui-la com seus próprios pés. Foi erguido pelos policiais e arrastado a força. Encerrou a missiva ao Marechal-presidente do seguinte modo: 'Divulgando essas palavras, severas, mas respeitosas, estou unicamente a cumprir  dever inerente à minha condição de cidadão. Queira receber, Senhor Presidente, as homenagens leais e sinceras do modesto concidadão e humilde servidor.'
Homem de convicções conservadoras, anticomunista, católico fervoroso que ia à missa e comungava todo dia, o conhecido advogado defendeu, gratuitamente, o líder comunista Luiss Carlos Prestes , quando este ficou 9 anos preso e incomunicável na ditadura Vargas (Estado Novo, 1937-1945).Advogou também, sem honorários, o escritor Graciliano Ramos e o dirigente comunista alemão Harry Berger, barbaramente torturado pela polícia de Getúlio Vargas. Do mesmo modo, defendeu os nove chineses da missão comercial detidos durante a quartelada de 1o. de abril de 1964, acusados de agentes terroristas à serviço da subversão de Pequim.
Através da sua atuação política, Dr. Sobral nunca teve emprego ou cargo público, sempre sobreviveu do seu trabalho de advogado.Chegou a recusar convite de Juscelino Kubitschek para se tornar ministro do Supremo Tribunal Federal, pois não queria que sua defesa da posse do presidente surgisse como baseada em interesse pessoal. Num de seus últimos aparecimentos, no gigantesco comício das Diretas Já. no Rio de Janeiro em 1984, foi aplaudido por dezenas de milhares de pessoas ( que formavam um mar multicor de bandeiras e faixas verdes, amarelas e vermelhas). Impedidos  de votar para presidente da República, os manifestantes se emocionaram ao ouvi-lo, já com a voz fraca e rouca, pronunciar uma única frase, base jurídico do moderno liberalismo democrático: 'Todo poder emana do povo e é em seu nome exercido!' Já não há mais liberais como antigamente."

Sim, infelizmente, já não há...