quinta-feira, 23 de outubro de 2014

É FÁCIL DIMINUIR A ANSIEDADE


Contra a Ansiedade
Sempre que te aconteça alguma coisa contrária à tua expectativa diz a ti mesmo que "os deuses tomaram uma decisão superior!"
Com semelhante disposição de espírito, nada terás a temer.

Esta disposição de espírito consegue-se pensando na instabilidade da vida humana antes de a experimentarmos em nós, olhando para os filhos, a mulher, os bens como algo que não possuiremos para sempre, e evitando imaginarmo-nos mais infelizes um dia que deixemos de os possuir.


Será a ruína do espírito andarmos ansiosos pelo futuro, desgraçados antes da desgraça, sempre na angústia de não saber se tudo o que nos dá satisfação nos acompanhará até ao último dia; assim, nunca conseguiremos repouso e, na expectativa do que há-de vir, deixaremos de aproveitar o presente.


Situam-se, de fato, ao mesmo nível a dor por algo perdido e o receio de o perder. Isto não quer dizer que te esteja incitando à apatia! Pelo contrário, procura evitar as situações perigosas; procura prever tudo quanto seja previsível; procura conjecturar tudo o que pode ser-te nocivo muito antes de que te suceda, para assim o evitares.

Para tanto, ser-te-á da maior utilidade a autoconfiança, a firmeza de ânimo apta a tudo enfrentar.

Quem tem ânimo para suportar a fortuna é capaz de precaver-se contra ela; mas nada de angústias quando tudo estiver tranquilo!
O cúmulo da desgraça e da estupidez está no medo antecipado.
Que loucura é esta, ser infeliz antecipadamente?

Em suma, para te resumir o que eu penso e te descrever como são estes homens que, à força de se preocuparem, só conseguem fazer mal a si próprios:
Tanta falta de moderação eles mostram em plena desgraça como antes dela!

Quem sofre antes de tempo sofre mais do que o devido;
uma mesma incapacidade leva-o a não prever a presença da dor onde não a espera;
uma mesma imoderação fá-lo imaginar permanente a sua felicidade, imaginar que os bens que o acaso lhe deu não só hão de perdurar como também de multiplicar-se;
esquecido do trampolim que é a vida humana, convence-se de que no seu caso, por excepção, o acaso deixará de se fazer sentir.

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'