segunda-feira, 20 de outubro de 2014

OLAVO BILAC OUVINDO ESTRELAS



"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir o sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizes, quando não estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas".
(Olavo Bilac, "Via Láctea", XIII)

O TEMPO E NÓS




Não somos preparados
para viver o presente. Você é um bom estudante
porque tem de ser um bom profissional... no futuro.
Seja bom filho, assim será — futuramente — um
marido e pai exemplares. O desejo é sempre colocado
adiante — e nós correndo atrás dele — nessa pantomima
que aprendemos a encenar como se fosse
“vida real”. A felicidade está no futuro e este nunca
chega, porque sempre é adiado “para amanhã”.
É certo que aprendemos através da dor. Uma
doença tida como incurável, uma perda significativa
ou qualquer tipo de carência evidenciada são capazes
nos ensinar a viver o presente com avidez. Mas
podemos nos deixar levar, nesse aprendizado, pelo
caminho do amor, muito mais seguro, sábio, enriquecedor.
Fomos moldados para aceitar as dificuldades
da vida e temos de nos empenhar exaustivamente
para reaprender a nos voltar à verdadeira — e muito
simples — natureza das coisas.

(Trecho do livro: Prazer em Conhecer-se de Regina Maria Azevedo)