sexta-feira, 13 de junho de 2014

“O OPOSTO DA SOLIDÃO”

Amigos são o oposto de solidão mas, não se esqueça “você é responsável por aquilo que cativas”, cuide todos os dias para não ficar só.
PDMEOC
Imagem Google


Por Marina Keegan
(tradução Nando Pereira)
27 de maio de 2012.
O texto abaixo foi escrito por Marina Keegan da turma de 2012 para uma edição especial do News distribuído nos exercícios de discursos de formatura da turma de 2012 semana passada. Keegan morreu em um acidente de carro no sábado. Ela tinha 22 anos.
Não temos uma palavra para o oposto da solidão, mas se tivéssemos, eu poderia dizer que é o que queremos na vida. É o que eu tenho gratidão e agradecimento de ter achado em Yale, e o que tenho pavor de perder quando acordar amanhã e deixar esse lugar.
Não é exatamente amor e não é exatamente comunidade; é somente uma sensação que existem pessoas, um monte delas, que estão nisso juntas. Que estão na nossa equipe. Quando a conta é paga e você fica na mesa. Quando é quatro da manhã e ninguém vai pra cama. Aquela noite com o violão. Aquela noite que não conseguimos lembrar. Aquela vez que fizemos, fomos, vimos, rimos, sentimos. Os chapéus.
Yale é cheio de pequenos círculos que criamos ao nosso redor. Grupos a cappella, times de esportes, casas, sociedades, clubes. Estes pequenos grupos que nos fazem sentir amadas e seguras e parte de algo mesmo em nossas noites mais solitárias quando ficamos em casa com nossos computadores – sem companheiros, cansadas, acordadas. Não teremos isso ano que vem. Não vamos morar no mesmo quarteirão que todos os nossos amigos. Não teremos um monte de grupos para mandar mensagens.
Isso me assusta. Mais do que encontrar o trabalho certo ou cidade ou marido - me assusta perder esta rede em que estamos. Este elusivo e indefinível oposto da solidão. Essa sensação que tenho exatamente agora.
Mas vamos entender bem uma coisa: os melhores anos de nossas vidas não estão atrás de nós. Eles são parte de nós e eles vão se repetir conforme crescemos e mudamos para Nova Iorque e de Nova Iorque e quando vamos desejar que tivéssemos ou não morado em Nova Iorque. Tenho planos de fazer festas quando eu tiver 30 anos. Quero me divertir quando eu for velha. Qualquer noção de OS MELHORES anos vem de um monte de clichês de “deverias…”, ” se eu tivesse…”, “eu gostaria de…”.
Claro, tem coisas que queríamos ter feito ou tido: nossas leituras, aquele garoto no fim do corredor. Somos nossos próprios piores críticos e é fácil nos colocar pra baixo. Dormimos demais. Atrasamos. Cortamos caminho. Mais de uma vez lembrei daquele eu quando estava no colégio e pensei: Como fiz aquilo? Como dei tão duro? Nossas inseguranças privadas nos seguem e sempre nos seguirão.
Mas o negócio é que todos somos assim. Ninguém acorda quando queria acordar. Ninguém leu todo o texto (exceto talvez aquelas pessoas malucas que vencem os prêmios…). Temos esses altos padrões impossíveis e provavelmente nunca cumpriremos nossas fantasias perfeitas de nossos próprios futuros. Mas sinto que está tudo bem.
Somos tão jovens. Somos tão jovens. Temos vinte e poucos anos. Temos tanto tempo. Tem essa sensação que às vezes tenho, subindo por nosso consciências coletivas enquanto ficamos sozinhos depois de uma festa, ou embalamos nossos livros quando os doamos ou saímos – que de alguma maneira é tarde demais. Que os outros estão à frente. Mais talentosos, mais especializados. Mais em seus destinos de salvar o mundo de alguma maneira, de criar e inventar ou melhorar. Que agora é tarde demais para COMEÇAR um começo e que nós devemos nos contentar com a continuidade, para começar.
Quando viemos para Yale, havia uma percepção de possibilidade. Essa imensa e indefinível energia potencial – e é fácil sentir que isso se foi. Nunca tivemos que escolher e de repente tivemos que escolher. Alguns de nós focaram em si mesmos. Alguns de nós sabem exatamente o que querem e estão no caminho para conquistá-lo; já estão indo para a faculdade de medicina, trabalhando na ONG perfeita, realizando pesquisas. Para vocês eu digo parabéns e vocês são uns merdas.
Para a maioria de nós, entretanto, estamos meio que perdidos neste mar de artes liberais. Não muito certos de que estrada estamos e se deveríamos tê-la tomado. Se ao menos eu tivesse me formado em biologia… se ao menos eu tivesse envolvida em jornalismo desde o início… se ao menos eu tivesse pensado em passar para isso ou aquilo…
O que temos que nos lembrar é que ainda podemos fazer qualquer coisa. Podemos mudar nossas opiniões. Podemos começar de novo. Fazer uma Pós ou tentar escrever pela primeira vez. A noção que é tarde demais para fazer alguma coisa é cômica. É hilária. Estamos nos formando na universidade. Somos tão jovens. Não podemos, nós DEVEMOS não perder o sentido de possibilidade porque, no fim das contas, é tudo que temos.
N coração de uma noite de sexta-feira de inverno do meu ano como caloura, eu estava tonta e confusa quando recebi uma ligação dos meus amigos para encontrá-los na EST EST EST. Atordoadamente e confusa, comecei a me arrastar para o SSS, provavelmente o ponto mais longe do campus. Surpreendentemente, não me pergunte como e porque exatamente meus amigos estavam festando no prédio administrativo de Yale. Claro, eles não estavam. Mas estava frio e meu ID de alguma maneira funcionou e então entrei no SSS e tirei meu telefone. Estava calmo, as madeiras velhas rangiam e a neve quase não estava visível fora do vidro manchado. E eu sentei. E olhei pra cima. Nessa enorme sala que eu estava. Onde neste lugar milhares de pessoas tinha sentado antes. E sozinha, naquela noite, no meio de uma tempestade em New Haven, me senti tão extraordinária e inacreditavelmente segura.
Não temos uma palavra para o oposto da solidão, mas se tivéssemos, eu diria que é como me sinto em Yale. Como me sinto exatamente agora. Aqui. Com todos vocês. Apaixonada, impressionada, modesta, assustada. E não temos que perder isso.
Estamos nisso juntos, 2012. Vamos fazer algo acontecer a este mundo.
Fonte: http://dharmalog.com/2014/05/21/o-oposto-da-solidao-marina-keegan/