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Toda vez que um pensamento nasce, você nasceu. Quando o pensamento se foi, você se foi. Mas o 'você' não deixa o pensamento ir, e o que dá continuidade a esse "você" é o pensamento. Na verdade não existe uma entidade permanente, um você, na totalidade de todos os seus pensamentos e experiências.
Você acha que há "alguém" que está pensando os seus pensamentos, "alguém" que está sentindo seus sentimentos --- essa é a ilusão. Posso dizer que é uma ilusão, mas não é uma ilusão para você.
Suas emoções são mais complexas, mas é o mesmo processo. Por que você tem que dizer a si mesmo que você está com raiva, que você está com inveja de outra pessoa, ou que o sexo está incomodando você?
Há uma sensação, e você diz que você está deprimido ou infeliz ou feliz, ciumento, avarento, invejoso. Esta rotulagem traz à existência o que é traduzir essa sensação. O que você chama de "eu" não é nada, o que há são estas palavras "saco vermelho ',' banco ',' passos ',' corrimão ',' lâmpada ',' raiva ',' feliz ',' inveja ', ou o que seja.
Você está todo tempo colocando as células do cérebro numa atividade desnecessária e faz as células da memória operarem o tempo todo, destruindo a energia que está lá. Esta rotulagem é necessária quando você deve se comunicar com alguém ou com você mesmo. Mas você se comunica consigo mesmo o tempo todo.
Por que você faz isso? A única diferença entre você e a pessoa que fala em voz alta para si mesmo é que você não fala em voz alta. No momento em que você começar a falar em voz alta, junto vem o psiquiatra. Esse camarada, é claro, está fazendo a mesma coisa que você está fazendo, comunicar a si mesmo o tempo todo - 'saco', 'saco vermelho', 'obsessivo', 'compulsivo', 'complexo de Édipo', 'guloso', 'banco', 'corrimão', 'martini'. Então ele diz que algo está errado com você e coloca você no sofá e quer mudá-lo, para ajudá-lo.
Por que você não pode deixar as sensações sozinhas? Por que precisa traduzir, interpretar? Você faz isso, porque se você não comunicar a si mesmo, você não está lá. E esta perspectiva é assustadora para o 'você'.
O que quer que você experimenta - a paz, a felicidade, o silêncio, a bem-aventurança, o êxtase, a alegria, Deus sabe o que - será de segunda mão. Você já tem conhecimento sobre todas essas coisas. O fato de que você está em um estado de felicidade ou num estado de enorme silêncio significa que você sabe sobre isso. Você deve saber uma coisa, a fim de experimentá-la.
Esse conhecimento não é nada maravilhoso ou metafísico; 'banco', 'saco', 'saco vermelho ", é o conhecimento. O conhecimento é algo que é colocado em você por outra pessoa, e ele tem que partir de uma outra pessoa, que não é você.
Você pode experimentar uma coisa simples como aquele banco que está colocado à sua frente? Não, você só experimenta o conhecimento que você tem sobre o assunto. E o conhecimento vem de algum agente externo, sempre.
Você pensa os pensamentos de sua sociedade, sente os sentimentos de sua sociedade e vivencia as experiências de sua sociedade, não há nova experiência.
Então, tudo o que qualquer homem jamais pensou ou sentiu deve sair do seu sistema. E você é o produto de todo esse conhecimento - que é tudo que você é.
Trecho de Mystique de Enligtenment: de UG Krishnamurti
