segunda-feira, 12 de agosto de 2013

O QUE NÃO O DEIXA SABER QUEM VOCÊ É?


A sociedade, a cultura, a família,  estimulam desde cedo, cada componente a ser ele mesmo,  a buscar sua individualidade, a fortalecer seu ego.

Com o passar do tempo este condicionamento se consolida e, segundo Alan Watts "a sensação de 'eu' como um centro de ser solitário e isolado é tão poderosa e é experimentada de um modo tão comum, tão fundamental nas nossas formas de falar e pensar, nas nossas leis e instituições sociais, que não conseguimos experimentar ser, exceto como algo de superficial no esquema do universo."

Todos, com algumas exceções acreditamos realmente que somos separados de todos os outros e temos a capacidade de evoluir e nos realizarmos como indivíduos.  Assim sendo, vai chegar o momento em que vamos desejar atingir a expressão culminante de nossa excepcionalidade: tornar-se um ser iluminado, tornar-se santo, unir-se a Deus, etc.

Entretanto, muitos filósofos e espiritualistas,  compreendem que realmente não estamos isolados nem solitários e, no dizer de Alan Watts "nós não viemos a este mundo; viemos dele, como as folhas de uma árvore. Tal como o oceano produz ondas, o universo produz pessoas. Cada indivíduo  é uma expressão de todo o reino da natureza, uma ação singular do universo total."  

Daí decorre também o fato de que é impossível eliminar o ego porque  simplesmente não existe nada separado do Todo. O ego é uma ficção da mente.

Acreditando-se que somos unos com tudo  e por isso mesmo inseparáveis do todo, que necessidade teríamos  desta união com Deus?

Quando entendermos que não há o outro, seja o ego, seja outro indivíduo ou mesmo Deus porque tudo é uma unidade, quando esta afirmação de unidade deixar de ser um conhecimento e passar a ser algo que passamos a sentir, a vivenciar,  então, descobriremos que não há nada mais a descobrir, a realizar, a buscar porque já somos tudo que buscávamos, apenas havíamos esquecido disto.

Ao fim e ao cabo,


"A assim chamada realização de si mesmo é a descoberta, para si mesmo e por você mesmo, de que não existe você mesmo para ser descoberto". (UG Krishnamurti)

Na compreensão de UG Krishnamurti,   a forma de sair do ciclo vicioso da mente  é quebrar a continuidade do pensamento. Quando isto acontece, mesmo por uma fração de segundo, o domínio do pensamento será anulado e o corpo cai em seu ritmo natural. E, o ritmo natural do corpo e suas ações, já são perfeitos  e por isso  a harmonia já está lá. 


O "estado natural" de que ele fala é sem dúvida um estado de silêncio, de vazio interior, sendo impossível de se conseguir intencionalmente pela prática de técnicas meditativas, terapias, rituais, contemplação, etc, visto que esses processos estão sempre recriando a relação sujeito-objeto, a qual supõe sempre o tempo, o esforço e o vir a ser.
Por isso U.G. diz que "o estado natural é acausal - está além do fazer, da causa e efeito".

Assim, se o ego, reconhecendo seu estado de tormento interior, percebe de maneira profunda, completa e total que nada pode fazer para atingir a união tão almejada com o Divino, então ele pode cessar todo o esforço e repousar exatamente nessa bem-aventurança.



Alan Watts - Tabu - O que não o deixa saber quem você é? -Tradução de Fernando de Castro ferreira e Olavo de Carvalho. Editora Três.

UG Krishnamuti um Filósofo Radical. in : http://www.desenredo.com.br/Textos/UG_Artigo.htm