terça-feira, 9 de julho de 2013

A cientista que curou seu próprio cérebro

http://sacola-de-praia.blogspot.com.br/2008_08_01_archive.html
A cientista Jill Bolte Taylor, teve um derrame que a fez descobrir as qualidades do lado direito do seu cérebro e durante sua recuperação aprendeu a valoriza-las, trabalhando para atingir o equilíbrio na utilização destas duas funções cerebrais. Ela descreve toda a experiência  vivida durante e após o derrame no livro: A Cientista que Curou seu Próprio Cérebro.  Abaixo, transcrevo um trecho do livro no qual ela descreve como cada lado do  cérebro leva a uma experiência diferente na forma de perceber os acontecimentos, porque achei muito interessante e original a nova abordagem que faz das funções dos lados direito e esquerdo do cérebro.

"Na consciência do lado direito de minha mente, somos todos unidos como a trama universal do potencial humano, e a vida é boa e somos todos belos, exatamente como somos.

O personagem do lado direito de minha mente é aventureiro, gosta de celebrar a abundância e é socialmente adepto. Ele é sensível à comunicação não verbal, empático, e decodifica emoção com precisão. O lado direito de minha mente é aberto ao fluxo eterno que me faz existir como um ser unificado ao Universo. É o assento de minha mente divina, o conhecedor, a mulher sábia, o observador. É minha intuição e minha consciência mais elevada. O lado direito de minha mente é sempre presente e se perde no tempo.


Uma das funções naturais do lado direito é trazer-me novo conhecimento nesse momento, de forma que eu possa atualizar velhos arquivos que contêm informações desatualizadas. Por exemplo, quando eu era criança, não comia abóbora. Graças a meu hemisfério direito, dei uma segunda chance à abóbora e agora adoro esse alimento. 


Muitos fazem julgamentos com o hemisfério esquerdo e depois não se dispõem a passar pela sensação ao lado direito (isto é, para a consciência do hemisfério direito) para uma atualização de arquivo. Para muitos, uma vez tomada a decisão, o indivíduo fica ligado a ela para sempre. tenho constatado que a última coisa que um hemisfério esquerdo realmente dominante quer é dividir seu limitado espaço craniano com uma contraparte direita de mente aberta!

O lado direito da mente é aberto a novas possibilidades e pensa para além dos limites. Ele não é limitado por regras e regulamentações estabelecidas pelo lado esquerdo, que cria os limites. Em consequência, o lado direito de minha mente é altamente capaz em sua

disponibilidade de experimentar algo novo. 

Ele reconhece que o caos é o primeiro passo do processo criativo. É cinestésico, ágil, e adora a capacidade de meu corpo mover-se no mundo de maneira fluida. É sintonizado com as mensagens sutis que minhas células comunicam através de sentimentos viscerais, e aprende pelo toque e pela experiência.

O lado direito de minha mente celebra sua liberdade no Universo e não é cativo do meu passado, nem teme o que o futuro pode ou não trazer. Ele honra minha vida e a saúde das minhas células. E não se preocupa apenas com o corpo; preocupa-se com a forma física do corpo e com a saúde mental como uma sociedade, e também com o relacionamento com a Mãe-Terra.


A consciência do lado direito da mente aprecia que cada célula do corpo (exceto as células vermelhas do sangue) contenha exatamente o mesmo gênio molecular do zigoto original que foi criado quando a célula-ovo de nossa mãe se combinou à célula-espermatozoide de nosso pai. 


Esse lado entende que sou o poder da força da vida de 50 trilhões de gênios moleculares que esculpem minha forma! (E ele canta sobre isso regularmente!) Ele entende que somos todos ligados uns aos outros num complexo tecido do cosmos, e marcha com entusiasmo no ritmo do próprio tambor.

Livre de toda percepção de limites, o lado direito de minha mente proclama: "Sou parte disso tudo. Somos irmãos e irmãs neste planeta. Estamos aqui para ajudar a fazer desse mundo um lugar mais pacífico e bom". O lado direito vê unidade entre todas as entidades vivas, e espero que você conheça intimamente esse traço dentro de você.


Por mais que adore a atitude, a abertura, o entusiasmo com que o lado direito de minha mente abraça a vida, é claro, o lado esquerdo é também fabuloso. Por favor, lembre que esse é o personagem que reconstruí durante a maior parte da última década. O lado esquerdo de minha mente é responsável por pegar toda aquela energia, toda aquela informação sobre o momento presente e todas aquelas magníficas personalidades percebidas pelo lado direito, e torná-las algo administrável.


O lado esquerdo de minha mente é o instrumento que uso para me comunicar com o mundo externo. Como o lado direito pensa em painéis de imagens, o lado esquerdo pensa em linguagem e fala comigo sempre. Usando o papo do cérebro, ele não só me mantém à frente da minha vida, mas também manifesta minha identidade. Pela capacidade que o centro de linguagem do lado esquerdo tem de dizer "eu sou", eu me torno uma entidade independente e separada do fluxo eterno. Como tal, torno-me alguém sólido, singular, separado do todo.

Nosso lado esquerdo do cérebro é realmente uma das melhores ferramentas do Universo quando se trata de organizar informação. A personalidade de meu hemisfério esquerdo se orgulha de sua capacidade de categorizar, organizar, descrever, julgar e analisar de maneira crítica absolutamente tudo. Ela prospera em sua constante contemplação e cálculo. 

Independentemente de minha boca estar se movendo ou não, o lado esquerdo da mente permanece ocupado teorizando, racionalizando e memorizando. Ele é um perfeccionista e um fabuloso administrador, seja de uma corporação ou de uma casa. Ele diz constantemente: "Tudo tem um lugar e tudo pertence a seu lugar". O personagem do lado direito da mente valoriza a humanidade, enquanto o do lado esquerdo se preocupa com finanças e economia.

Na escala do fazer, o lado esquerdo é multitarefa e adora desempenhar tantas funções quantas forem possíveis ao mesmo tempo. É uma abelha realmente ocupada e mede parcialmente seu valor por quantos itens consegue riscar da lista de afazeres diários. Por pensar em sequência, ele é excelente em manipulação mecânica. Sua habilidade para focar diferenças e distinguir características faz dele um construtor natural.

Meu lado esquerdo do cérebro é particularmente dotado para a identificação de padrões. Como resultado, é perito no processamento rápido de grandes volumes de informação. Para acompanhar as experiências da vida no mundo externo, esse lado processa informação com rapidez impressionante — muito mais depressa do que o hemisfério direito, que, em comparação, tende a ir atrás de sua contraparte. Em alguns momen
tos, o lado esquerdo de minha mente pode tornar-se maníaco, enquanto o direito tem potencial para ser preguiçoso.

Essa diferença na velocidade do pensamento, no processamento de informação e na expressão do pensamento, palavra ou ato entre os dois hemisférios está em parte ligada a suas habilidades únicas de processar diferentes tipos de informação sensorial. Nosso lado direito do cérebro percebe os comprimentos de onda de luz mais longos. 

Como resultado, a percepção visual do lado direito é de alguma forma difusa ou suavizada. Essa ausência de percepção de limites nos permite focar a cena mais ampla de como as coisas se relacionam umas com as outras. De maneira similar, o lado direito da mente se sintoniza com as frequências mais baixas de som, que são prontamente geradas pelos sons internos corporais e outros tons naturais. Em decorrência, o lado direito é biologicamente projetado para sintonizar com prontidão nossa fisiologia.

Ao contrário, o lado esquerdo do cérebro percebe as ondas de luz mais curtas, o que aumenta sua capacidade de delinear claramente limites. Sendo assim, esse lado é biologicamente perito na identificação de linhas de separação entre entidades adjacentes. Ao mesmo tempo, os centros de linguagem do hemisfério esquerdo entram em sintonia com as frequências mais altas de som, o que os ajuda a detectar, discriminar e interpretar tons comumente associados à linguagem verbal.

Uma das características mais proeminentes do lado esquerdo do cérebro é sua habilidade de tecer histórias. Essa porção de contador de histórias do centro de linguagem é especialmente projetada para dar sentido ao mundo que nos rodeia, tendo por base quantidades mínimas de informação. 

Ela funciona valendo-se de quaisquer detalhes disponíveis e trabalhando com eles, e depois os urde em formato de história. O mais impressionante é que o lado esquerdo do cérebro é brilhante em sua capacidade de criar coisas e preencher as lacunas existentes entre os dados factuais. 

Além disso, durante o processo de gerar uma história, o hemisfério esquerdo é genial em sua habilidade de forjar cenários alternativos. E, se o assunto desperta em você um interesse realmente passional, seja esse sentimento positivo ou negativo, ele é particularmente eficiente em se ligar àqueles circuitos de emoção e esgotar todas as possibilidades do tipo "e se".

Quando os centros de linguagem de meu hemisfério esquerdo se recuperaram e se tornaram novamente funcionais, passei a dedicar muito tempo à observação de como meu contador de histórias tirava conclusões tendo por base informação mínima. Por muito tempo, considerei cômicas essas táticas do meu contador de histórias. Pelo menos até perceber que o lado esquerdo de minha mente realmente esperava que o restante de meu cérebro acreditasse nas histórias que ele criava! 

Durante essa ressurreição do personagem e das habilidades do lado esquerdo, tem sido extremamente importante que eu retenha a compreensão de que esse lado de meu cérebro está fazendo o melhor que pode com a informação de que dispõe para trabalhar. Preciso lembrar, porém, que há enormes lacunas entre o que sei e o que penso saber. Aprendi que tenho de ser muito cautelosa com o potencial do meu contador de histórias para formular drama e trauma.

Nessa mesma linha, enquanto o lado esquerdo do cérebro produzia de maneira entusiasmada histórias que ele promovia como verdades, ele tinha tendência a ser redundante, manifestando grupos de padrões de pensamento que reverberavam por minha mente, muitas e muitas vezes. Para muitos, esses grupos de pensamentos correm desenfreados e nos encontramos habitualmente imaginando possibilidades devastadoras. Infelizmente, como sociedade, não ensinamos às crianças que elas precisam cuidar do jardim da mente. 

Sem estrutura, censura ou disciplina, nossos pensamentos rodam no automático. Por não termos aprendido como administrar com mais cuidado o que acontece no interior da cabeça, continuamos vulneráveis não só ao que outras pessoas pensam sobre nós, mas também à manipulação publicitária e/ou política.

A porção do meu cérebro esquerdo que escolhi não recuperar foi a porção desse caráter que tinha o potencial para ser cruel, preocupar-se sem cessar ou ser verbalmente abusivo com relação aos outros ou a mim mesma. Para ser sincera, eu apenas não gostava de como essas atitudes eram sentidas fisiologicamente no interior do meu corpo. 

Meu peito ficava oprimido, eu podia sentir minha pressão subindo e a tensão na testa me dava dor de cabeça. Além disso, eu queria deixar para trás todos os meus antigos circuitos emocionais que estimulavam automaticamente a resposta de replay instantâneo de memórias dolorosas. Descobri que a vida é muito curta para ser infestada com sofrimento do passado.

Durante o processo de recuperação, descobri que a porção de meu caráter que era teimosa, arrogante, sarcástica e/ou invejosa residia no ego central daquele lado esquerdo danificado do cérebro. Essa porção de minha mente-ego tinha a capacidade de me fazer lidar mal com a perda, guardar ressentimentos, contar mentiras e até buscar vingança. Redespertar esses traços de personalidade era muito perturbador para a inocência recém-descoberta do lado direito de minha mente. Com muito esforço, escolhi conscientemente recuperar o ego central do lado esquerdo de minha mente sem dar vida renovada àqueles velhos circuitos."


Caso desejem ampliar o conhecimento sobre a experiência vivida pela Dra. Jill leiam seu livro.


Livro: A cientista que curou seu próprio cérebro 

Jill Bolte Taylor

Sem o ego, não há problema

http://narcisismomaldoseculo.blogspot.com.br/
Reclamar e reagir são as formas preferidas da mente para fortalecer o ego.
Para muitas pessoas, grande parte da atividade mental e emocional consiste em
reclamar e reagir contra isso ou aquilo. Procuram fazer com que os outros ou as
coisas estejam ERRADOS e só elas estejam CERTAS.

 Estando certas, elas se sentem SUPERIORES e, assim, fortalecem seu ego. No entanto, estão apenas fortalecendo a ILUSÃO do ego. Pare um pouco e pense: você tem esses padrões de
comportamento? Consegue perceber a voz em sua mente que está sempre
reclamando e apontando os outros como culpados? 

O eu autocentrado precisa do conflito  para fortalecer sua identidade. Ao lutar contra algo ou alguém, ele demonstra para si mesmo que isto sou eu e aquilo não sou eu .
É comum que países, tribos e religiões procurem fortalecer sua SENSAÇÃO
de identidade coletiva colocando-se em oposição aos seus inimigos. Quem seriam os
crentes se não existissem os que não creem?

Ao se relacionar com pessoas, você é capaz de perceber em si mesmo
sentimentos sutis de superioridade e de inferioridade em relação a elas? Quando isso
acontece, é o ego que está se manifestando, porque ele precisa da comparação para
se afirmar. 

A identidade do ego depende da comparação e se alimenta do mais. Ele se agarra a qualquer coisa. Quando nada disso funciona, as pessoas procuram fortalecer seu ego considerando-se mais injustamente tratadas pela vida, mais doentes ou mais infelizes do que os outros.
Quais são as histórias que você cria para encontrar SUA PRÓPRIA IDENTIDADE?

O eu autocentrado tem também necessidade de se opor, resistir e excluir para manter a idéia de separação da qual depende sua sobrevivência. Assim, ele coloca eu contra os outros e nós  contra eles . O ego precisa estar em conflito com alguém ou alguma coisa. Isso explica por que, apesar de você querer paz e amor, não consegue suportar a paz, a alegria e o amor por muito tempo. 

Você diz que quer ser feliz, mas está viciado em ser infeliz.
A culpa é outra forma que o ego tem para criar uma identidade. Para o ego não importa que essa identidade seja negativa ou positiva. O que você fez ou deixou de fazer foi uma manifestação de inconsciência, que é natural da condição humana.

Se você estivesse mais ALERTA, mais CONSCIENTE, teria agido de outra maneira.
Se você estabelece objetivos autocentrados na sua busca de libertação e de autovalorização, mesmo que os atinja eles não irão satisfazê-lo.

Disse o mestre, quando lhe pediram para explicar o sentido mais profundo
do budismo: Sem o ego, não há problema .

Eckhart Tolle - O Poder do Silêncio