segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

MUDAR OS OUTROS


"...
Na minha viagem para procurá-lo, meu carro enguiçara nos arredores
de uma cidade e eu fiquei retido por lá cerca de três dias, enquanto o
consertavam. Havia um motel defronte da oficina, mas os arredores de
cidades sempre me deprimem, de modo que hospedei-me num hotel
moderno, de oito andares, no centro da cidade.

O mensageiro me disse que o hotel tinha restaurante e, quando desci
para comer, vi que havia mesinhas na calçada. Era uma arrumação bonita,
numa esquina, debaixo de uma arcada baixa de tijolos, em linhas modernas.
Estava fresco lá fora e havia mesas vazias, e no entanto preferi ficar dentro
do hotel, onde estava mais abafado. 

Tinha reparado, ao chegar, que havia
um grupo de engraxates sentados no meio-fio diante do restaurante e estava
certo de que me perseguiriam se fosse sentar-me numa mesinha lá fora.
De onde eu estava sentado, via o grupo de garotos pela vidraça.

Dois rapazes sentaram-se a uma das mesas e os garotos os rodearam, pedindo
para engraxar os sapatos deles. Os rapazes recusaram e fiquei abismado ao
ver que os garotos não insistiram, voltando a sentar no meio-fio. 

Depois de certo tempo, três homens de terno levantaram-se e os garotos correram para a mesa deles e começaram a comer as sobras de comida; em alguns segundos, os pratos estavam raspados, o mesmo aconteceu com os restos
em todas as outras mesas.Reparei que os garotos eram bastante cuidadosos;
se derramavam água, enxugavam-na com seus próprios panos de engraxar.

Notei, também, como eram meticulosos em seus métodos de limpeza.
Comiam até os cubinhos de gelo deixados nos copos d'água e as fatias de limão do chá, com casca e tudo. Não desperdiçavam absolutamente nada.
Durante o tempo em que fiquei no hotel, descobri que havia um acordo
entre os garotos e a gerência do restaurante: era permitido aos garotos
ficarem no local para ganhar algum dinheiro dos hóspedes e também comer
os restos, desde que não apoquentassem ninguém nem quebrassem nada.

Havia onze deles ao todo, de cinco a doze anos de idade; mas o mais velho
era mantido a distância do resto do grupo. Os outros o ignoravam
propositadamente, provocando-o com uma cantilena de que já tinha pelos
púbicos e que era muito velho para estar entre eles.

Depois de passar três dias vendo-os procurarem como abutres os mais
parcos restos, fiquei muito desanimado, e saí daquela cidade achando que
não havia esperança para aquelas crianças, cujo mundo já era moldado por
sua luta quotidiana por migalhas.
— Tem pena deles? — exclamou Dom Juan, em tom de pergunta.
— Por certo — disse eu.
— Por quê?
— Porque me preocupo com o bem-estar de meus semelhantes. São
crianças e o mundo deles é feio e vulgar.
— Espere! Espere! Como pode dizer que o mundo deles é feio e vulgar?
— perguntou Dom Juan, fazendo pouco de minha declaração. — Você acha
que sua sorte é melhor, não é?


Respondi que sim; e ele me perguntou por quê; disse-lhe que, em
comparação com o mundo daquelas crianças, o meu era infinitamente mais
variado e rico de experiências e oportunidades para a satisfação pessoal e o
desenvolvimento. O riso de Dom Juan era simpático e sincero.
Falou que eu não estava tendo cuidado com minhas palavras, que eu não podia saber da riqueza e oportunidade do mundo daquelas crianças.

Achei que Dom Juan estava sendo teimoso. Pensei mesmo que ele
estava adotando o ponto de vista oposto só para me aborrecer. Acreditava
sinceramente que aquelas crianças não tinham a menor possibilidade de
desenvolvimento intelectual.

Discuti meu ponto de vista mais um pouco e então Dom Juan me
perguntou, abruptamente;
— Você uma vez não me disse que, em sua opinião, a maior realização
da pessoa era tornar-se um homem de conhecimento?
Eu tinha dito aquilo, e repeti que, em minha opinião, ser um homem de
conhecimento era uma das maiores realizações intelectuais.


— Acha que o seu mundo muito rico algum dia o ajudaria a tornar-se
um homem de conhecimento? — perguntou Dom Juan, Com um ligeiro
sarcasmo.
Não respondi, e ele tornou a fazer a pergunta, de maneira diferente,
coisa que sempre faço com ele quando acho que não está entendendo.
— Em outras palavras — disse ele, sorrindo abertamente, sabendo
certamente que eu estava vendo seu artifício — a sua liberdade e
oportunidades o ajudam a tomar-se um homem de conhecimento?
— Não! — respondi, enfaticamente.
— Então, como é que pôde ter pena daquelas crianças? — continuou
ele, muito sério. — Qualquer delas pode tornar-se um homem de
conhecimento. Todos os homens de conhecimento que conheço foram
garotos como os que você viu comendo sobras e lambendo as mesas.
O argumento de Dom Juan deixou-me com uma sensação incômoda.

Eu não tinha sentido pena daquelas crianças desprivilegiadas por não terem
o que comer, mas sim porque, a meu ver, o mundo delas já as condenara a
serem intelectualmente inadequadas. E no entanto, para Dom Juan
qualquer delas poderia conseguir o que eu acreditava ser a epítome da
realização intelectual do homem, o objetivo de ser um homem de
conhecimento. Meu motivo de compaixão por elas era incongruente. Dom
Juan me pilhara direitinho.
— Talvez você tenha razão — disse eu. — Mas como é que se pode evitar
o desejo, o desejo sincero, de ajudar a seu semelhante?
— De que modo você acha que se pode ajudá-los?


— Aliviando a carga deles. O mínimo que se pode fazer por seu
semelhante é procurar modificá-lo. Você mesmo está empenhado nisso. Não
está?
— Não estou, não. Não sei o que modificar nem por que modificar nada
em meus semelhantes.
— E eu, Dom Juan? Não me estava ensinando para eu poder modificar-me?
— Não. Não estou tentando modificá-lo. Pode acontecer que um dia você
se torne um homem de conhecimento, não há meio de se saber isso, mas tal
fato não o modificará. Um dia talvez você consiga  ver  os homens de outro
modo e então compreenderá que não há meio de modificar nada neles.
— Qual é esse outro modo de ver, Dom Juan?
— Os homens parecem diferentes quando você vê. O fuminho o ajudará
a ver os homens como fibras de luz.
— Fibras de luz?
— Sim, Fibras, como teias de aranhas brancas. Fios muito finos que
circulam da cabeça ao umbigo. Assim, o homem parece um ovo de fibras
circundantes. E seus braços e pernas são como espinhos luminosos,
espocando em todas as direções.
— É assim que todos aparecem?


— Todos. Além disso, todos os homens estão em contato com tudo o mais, não por suas mãos, mas por meio de um punhado de fibras compridas
que saem do centro de seu abdômen. Essas fibras ligam o homem a seu
ambiente; mantêm seu equilíbrio; dão-lhe estabilidade. Assim, como algum
dia você poderá ver, o homem é um ovo luminoso, quer ele seja mendigo ou
rei, e não há jeito de modificar nada, ou melhor, o que poderia ser
modificado naquele ovo luminoso? O quê?"

Trecho do livro: Uma Estranha Realidade (Carlos Castañeda)

O QUE SE ESCONDE POR TRAZ DOS PORTÕES...

 


                       
http://ojardimsecretodaalma.blogspot.com.br/2010_11_01_archive.html
http://www.glamoureglace.com/2012/03/casa-os-jardins-secretos.html

jardins-secretos-de-amsterdam
http://www.olivre.com/page/23/


http://orquidarioorquiviva.blogspot.com.br/2011_02_01_archive.html


Jardim Secreto da Vila Medicea di Castelo na Toscana,
 observem que fica do lado interno da residência para 
protegê-lo dos olhares indiscretos por isso fica rodeado por altos muros.






 Durante junho, na cidade de Amsterdam, o Museu Van Loon de Amsterdam organiza o chamado Amsterdamse Open Tuinen Dagen ou Dias de Portas Abertas dos Jardins.

Neste evento todos que quiserem poderão conhecer aquilo que durante o ano se esconde trás as paredes e as portas das residências: seus jardins.

Nestas ocasiões  o visitante pode entrar, descobrir e desfrutar de mais de trinta jardins das casas dos canais que se abrirão ao público. Uma oportunidade única de conhecer aquilo que nem todos os turistas e, incluso, os habitantes locais tem a possibilidade de ver qualquer outro dia.


Acho uma excelente ideia esta, assim, outros mortais podem desfrutar das belezas que de outra sorte jamais conheceriam. Esta ideia deveria ser seguida em outras cidades do mundo e as pessoas só teriam a ganhar.


Além de ter o propósito de ter um lugar que fique resguardado dos olhos estranhos, os jardins tem como objetivo principal proporcionar um recanto aprazível, onde o silêncio, o canto dos pássaros, a presença das borboletas e a beleza das flores sejam o pano de fundo para momentos de leitura, reflexão ou meditação e para tornar estes momentos ainda mais agradáveis costumam acrescentar caramanchões e pérgolas onde poderiam até fazer pequenas refeições.


Acho uma excelente ideia esta, assim, outros mortais podem desfrutar das belezas que de outra sorte jamais conheceriam. Esta ideia deveria ser seguida em outras cidades do mundo e as pessoas só teriam a ganhar.


Outra coisa de grande beleza e romantismo são os portões que separam estes jardins do resto do mundo.




ptio tradicional por Aiken House & Gardens
http://www.projetosdejardins.com/search/projetos-de-jardins-para-casas-de-campo/
ptio tradicional por Aiken House & Gardens
http://www.projetosdejardins.com/search/projetos-de-jardins-para-casas-de-campo/
ptio tradicional por Aiken House & Gardens
http://www.projetosdejardins.com/search/projetos-de-jardins-para-casas-de-campo/
paisagem tradicional por Aiken House & Gardens
http://www.projetosdejardins.com/search/projetos-de-jardins-para-casas-de-campo/


.