domingo, 20 de janeiro de 2013

PEQUENA BIOGRAFIA DE UG KRHISNAMURTI

http://tarotoraculomilenar.blogspot.com.br/2011/06/arcano-xvi-16-torre-fulminada.html

Sobre a imagem deste post: Eu estava fazendo este post e de chofre surgiu na mente a XVI carta do tarot, a torre fulminada então houve uma imediata associação com o que estava lendo. Não sei se farão a mesma associação, mas isto é apenas uma tentativa de justificar a presença desta imagem neste post.


A boa vontade desse homem sem medo para desprezar todo o conhecimento acumulado e a sabedoria do passado é nada menos que estupenda. Neste particular ele é um colosso, uma espécie de "Shiva" andante e falante, pronto para destruir tudo de modo que a vida possa mover-se com novo vigor e liberdade.


Seu cruel e incessante ataque às nossas mais queridas idéias e instituições atinge não menos do que uma insurreição na consciência; uma superestrutura corrupta, podre em seu núcleo, é colocada à parte sem a menor cerimônia, e nada é colocado em seu lugar.


Demonstrando grande prazer no ato da completa destruição, U.G. não oferece nada a seus ouvintes, ao contrário, retira deles tudo que eles acumularam laboriosa e inconscientemente. Se o velho deve morrer para que surja o novo, então U.G. é, certamente, o arauto de um novo começo para o homem.


A sociedade que, como apontou Aldous Huxley, é organizada em total desamor, não pode possuir qualquer lugar para um homem livre como U.G. Krishnamurti.


Ele não cabe em qualquer estrutura social, espiritual ou secular conhecida. A sociedade utiliza seus membros para assegurar sua própria continuidade, sentindo-se ameaçada por U.G., um desestabilizador convicto que não tem nada a proteger, nenhum seguidor para satisfazer, nenhum interesse em respeitabilidade, e que fala as verdades mais duras de se ouvir, não importando quais forem as conseqüências.


U.G. é um homem "acabado". Nele não há qualquer busca, e portanto nenhum destino. Sua vida agora consiste de uma série de eventos desconexos. Não há nenhum centro em sua vida, ninguém "conduzindo" sua vida, nenhuma sombra interior, nenhum "fantasma na máquina". O que existe é uma máquina biológica altamente inteligente e sensível, funcionando suavemente; você procura em vão pela evidência de um self, psique ou ego. Há apenas o simples funcionamento de um organismo sensível.


É uma pequena maravilha que um tal homem "acabado" possa descartar o banal, os lugares-comuns da ciência, religião, política e filosofia, indo diretamente no núcleo dos assuntos, apresentando seu caso de maneira simples, sem medo, vigorosa e sem corroboração, (and without corroboration) a qualquer um que queira ouvir.


O sujeito desta obra, Mr. Uppaluri Gopala Krishnamurti, nasceu em 9 de julho de 1918, na aldeia de Masulipatam, no sul da India, filho de um casal de classe média da casta Brâmane.


Até onde sabemos, não houve qualquer evento excepcional cercando seu nascimento, celestial ou de outro tipo. Sua mãe morreu de febre puerperal sete dias após dar á luz seu primeiro e único filho. Em seu leito de morte, ela implorou à avó materna do menino que tomasse cuidado especial dele, acrescentando que tinha certeza de que ele teria um grande e importante destino pela frente.


Seu avô materno tomou esssa predição muito seriamente, e prometeu dar ao menino todos os benefícios de um abastado "príncipe" brâmane. Seu pai casou-se de novo, deixando U.G. aos cuidados dos avós.


Seu avô era um ardente Teosofista e conheceu J. Krishnamurti, Annie Besant, Cel. Alcott, e os outros líderes da Sociedade Teosófica. U.G. encontrou todas essas pessoas em sua juventude e teve a maior parte de sua formação em volta de Adyar, o quartel-general da Sociedade Teosófica em Madras, na Índia.


Ali havia infindáveis discussões sobre filosofia, religiões comparadas, ocultismo e metafísica. Cada parede da casa era coberta com quadros de famosos líderes Hindus e Teosóficos, especialmente Jiddu Krishnamurti.


A infância de U.G. foi pautada pelo saber religioso, discurso filosófico e a influência espiritual de vários personagens, tudo isso interessando profundamente o menino.


Seu avô levou-o por toda a Índia a visitar lugares sagrados, ashramas, retiros e centros de ensino religioso. Ele passou diversos verões no Himalaya, estudando yoga clássica com um famoso adepto, Swami Sivananda.


Foi nesses verdes anos de sua vida que U.G. começou a sentir que "algo estava errado em algum lugar", referindo-se a toda a tradição religiosa em que ele tinha sido imerso quase desde seu nascimento. Ele presenciou certos fatos que o decepcionaram, e começou a questionar a autoridade dos outros sobre ele. Então, ele desistiu da prática da yoga, e foi desenvolvendo um sadio ceticismo sobre tudo o que era considerado como espiritual em sua adolescência.


Rompendo com as tradições bramânicas, ele arrancou de seu corpo as vestes sagradas, símbolo da herança religiosa, e tornou-se um jovem cínico, rejeitando as convenções espirituais de sua cultura e questionando tudo para si mesmo. Ele mostrava cada vez menos respeito pelas instituições e costumes religiosos considerados tão importantes por sua família e pela comunidade, e um crescente desdém pela herança religiosa.


Com vinte e um anos, U.G. tinha se tornado um estudante secular quase ateu, estudando filosofia e psicologia ocidental na Universidade de Madras. A essa altura, ele foi convidado por uma amigo para ir com ele visitar o famoso "Sábio de Arunachala", em seu ashram em Tiruvannamalai, não muito longe do sul de Madras.


No ano de 1939, U.G., relutantemente, aceitou o convite. Por essa época, ele estava convencido de que todos os homens sagrados eram impostores. Mas, para sua surpresa, Ramana Maharshi era diferente.


O Bhagavan, um homem sereno, da maior sabedoria e integridade, não poderia causar uma impressão mais forte no jovem U.G. Ele raramente falava àqueles que dele se aproximavam com questões.


U.G. aproximou-se do mestre apreensivamente, fazendo-lhe três perguntas:


"Existe algo como iluminação"?, perguntou U.G.


"Sim, existe", respondeu o mestre.


"Existe nela quaisquer tipos de níveis?"


O Bhagavan respondeu:


"Não, não há níveis. É uma coisa só. Ou você está ali ou não está absolutamente."


Finalmente, U.G. perguntou:


"Essa coisa chamada iluminação, você pode me dar?"


Olhando o sério jovem bem nos olhos, ele respondeu:


"Sim, eu posso lhe dar, mas você pode pegar?"


Daí em diante, U.G. ficou obcecado por essa resposta e implacavelmente perguntava a si mesmo: "O que é isso que eu não posso pegar?". Ele resolveu então que, "haveria de pegar" o que quer fosse aquilo sobre o que Maharshi estava falando.


Mais tarde ele disse que esse encontro mudou o curso de sua vida e "recolocou-o nos trilhos". Ele nunca mais visitou o Bhagavan novamente. Ramana Maharshi morreu in 1951, de câncer, e é considerado um dos maiores sábios que a Índia jamais produziu.


Pelos seus 20 anos, o sexo começou a ser um problema para U.G. Embora intermitentemente prometendo privar-se de sexo e casamento em consideração a uma vida de celibato religioso, ele pensava eventualmente que sexo era um impulso natural, que não era sábio suprimí-lo, e que, de qualquer modo, a sociedade tinha providenciado instituições legítimas para preencher esse anseio.


Ele escolheu como sua noiva uma das três belas jovens de origem Brâmane que sua avó havia selecionado para ele, como possíveis companheiras adequadas. Mais tarde ele foi levado a dizer, "Eu acordei na manhã seguinte ao meu casamento e soube sem dúvida que havia cometido o maior erro de minha vida".


Ele permaneceu casado por dezessete anos, cuidando de quatro filhos. Desde o começo ele quis separar-se, mas os filhos foram chegando e o casamento continuou. Seu filho mais velho, Vasant, teve poliomielite, e U.G. decidiu mudar-se com a família para os Estados Unidos, a fim de que o jovem pudesse receber o melhor tratamento. Nesse processo ele gastou praticamente toda a fortuna que ele recebera de seu avô. Ele tinha esperança de sua esposa pudesse obter educação apropriada para encontrar um emprego, ficando numa posição independente, de maneira que ele pudesse ir embora sozinho. Realmente ele conseguiu isto, achando-lhe um emprego com a World Book Encyclopedia


Por essa época toda sua fortuna tinha ido embora, e ele estava farto de ser um orador público (primeiro como representante da Sociedade Teosófica e depois como orador independente), seu casamento tinha terminado, e ele estava perdendo o interesse na batalha para ser alguém neste mundo.


Pelo início de seus quarenta anos ele estava quebrado, sozinho e esquecido por seus antigos amigos e associados. Então ele começou a peregrinar, primeiro em Nova York, depois em Londres, onde ficou reduzido a passar seus dias na Biblioteca Pública de Londres, para escapar dos rigores do inverno, dando aulas de culinária indiana por algum dinheiro.


Sua peregrinação prosseguiu em Paris. Desse período U.G. disse mais tarde, "Eu era como uma folha soprada pelos ventos inconstantes, sem passado nem futuro, nem família ou carreira, nem qualquer tipo de preenchimento espiritual. Lentamente, perdia a condição de fazer qualquer coisa.Eu não estava rejeitando ou renunciando ao mundo; ele flutuava adiante de mim e eu era não era capaz de segurá-lo, estava privado de qualquer força de vontade."


Quebrado e sozinho, ele foi até Gênova onde ele tinha deixado alguns francos em uma velha conta, suficiente apenas para mantê-lo por uns poucos dias. Então essa pequena quantia acabou, ele ficou em dívida com o aluguel, e ficou sem ter onde ir.


Decidiu então ir ao Consulado Indiano em Gênova, e pedir para ser repatriado para a India.

"Eu não tinha dinheiro, amigos, e nenhuma vontade restara. Achei que ao menos da Índia eles não poderiam me expulsar. Afinal, apesar de tudo eu era um cidadão; talvez eu pudesse apenas sentar debaixo de uma árvore banyan em algum lugar e alguém me alimentasse. "

Assim, com quarenta e cinco anos, completamente falido aos olhos do mundo, sem um penny e sozinho, ele caminhou até o Consulado e pediu para ser repatriado para a Índia. Ele tinha pouca chance. Mas isso foi um ponto de mutação em sua vida.


Ele foi ao Consulado Oficial da Índia e começou a contar sua triste história ao Cônsul. Quanto mais ele falava, mais fascinado ficava o Cônsul. Logo o escritório inteiro ficou em completo silêncio ouvindo sua extraordinária narrativa. A secretária e tradutora do Consulado, Valentine de Kerven, estava ouvindo atentamente. No início de seus sessenta anos, ela tinha muita experiência do mundo, e encheu-se de piedade pelo estranho e carismático homem à sua frente. Ninguém no escritório sabia o que fazer com ele.


Valentine, que conhecia a adversidade por si mesma, simpatizou com aquele homem errante e destituído, e logo ofereceu-lhe um lar na Europa. Ela tinha uma pequena herança e pensão que seria suficiente para ambos. U.G. , relutante em voltar para Índia e ter que encarar sua família, amigos e suas pobres perspectivas, aceitou, cheio de gratidão, o oferecimento.


Os próximos quatro anos (1963-67) foram dias pacíficos para ambos. Ela deixou seu emprego no consulado e viveu calmamente com U.G., passando temporadas na Itália, no sul da França, Paris e Suiça. Mais tarde começaram a passar os invernos no sul da Índia, onde as coisas eram relativamente baratas, e o tempo mais saudável.


Durante esses anos, U.G, como ele declarou mais tarde, não fez nada. " Eu dormia, lia o Time Magazine, e fazia caminhadas com Valentine ou sozinho. Isso era tudo." Ele estava numa espécie de período de incubação. Sua procura estava próxima do fim. Ele nunca mencionou a Valentine os poderes ocultos, experiências espirituais e fundamentos religiosos que haviam constituído grande parte de sua vida. Eles viveram simples e quietamente como donos de casa viajantes (as private migrating householders).


Eles foram passar os meses de verão no sótão de um antigo chalé de 400 anos de idade, na chamosa vila suiça de Saanen. Por alguma razão J. Krishnamurti decidiu dar uma série de palestras em uma enorme tenda levantada nas vizinhanças da mesma pequena cidade. Buscadores religiosos, yogis, filósofos e intelectuais do ocidente e do oriente começaram a aparecer na pequena vila para presenciar suas palestras, para dar e receber aulas de yoga, e trocar idéias sobre assuntos espirituais e filosóficos.


U.G. e Valentine mantiveram uma respeitável distância, não desejando participar da crescente cena que se assemelhava mais e mais a um circo. Nesse ambiente U.G. aproximou-se de seus quarenta e nove anos. Kowmara Nadi, uma famosa e respeitada astróloga de Madras, havia há muito tempo atrás predito que U.G. haveria de passar por uma profunda transformação em seu quadragésimo-nono aniversário. Aproximando-se esse dia, incontáveis coisas estranhas começaram a ocorrer com U.G. Algo radical e completamente inesperado estava para acontecer-lhe.


A partir dessa idade, U.G. começou a ter dores de cabeça recorrentes e dolorosas, e, não sabendo o que fazer, começou a tomar enormes quantidades de café e aspirina para enfrentar as terríveis dores. Por essa época ele começou também a parecer mais jovem, ao invés de mais velho. Naquela época, com quarenta e nove anos, ele parecia um homem de setenta ou oitenta anos. Após essa idade, ele começou a envelhecer normalmente, embora ele ainda aparente ser muito mais jovem do que seus atuais sessenta e sete anos (este prefácio foi escrito aproximadamente em 1985).


Entre essas dores de cabeça ele passaria por experiências extraordinárias onde, como ele mais tarde descreveu, "Eu sentia como se minha cabeça estivesse faltando". Surgindo simultaneamente com esses estranhos fenômenos, vieram os assim chamados poderes ocultos, aos quais U.G. se referia com poderes e instintos naturais do homem. Uma pessoa totalmente desconhecida podia andar pela sala e U.G. podia ver seu passado inteiro, como se estivesse lendo uma biografia. Ele podia dar uma olhada na palma da mão de um estranho e instantaneamente saber seu futuro.


Todos os poderes ocultos começaram a se manifestar nele gradualmente após a idade de trinta e cinco anos. "Eu nunca usei esses poderes para nada; eles simplesmente estavam lá. Eu sabia que eles não tinham grande importância e simplesmente deixei-os ali."


Coisas continuaram a acontecer dentro dele, e U.G., preocupado que Valentine pudesse concluir que ele estava louco, nada mencionou a ela ou a qualquer outro sobre esses assuntos. Pouco antes de completar quarenta e nove anos, ele começou a ter o que mais tarde chamou de "visão panorâmica", um jeito de ver em que o campo de visão aparecia em volta dos olhos abertos em quase 360 graus de largura, enquando o observador desaparecia inteiramente e os objetos se moviam passando direto através de sua cabeça e corpo (while the viewer or observer disappeared entirely and objects moved right through the head and body).


O organismo inteiro, desconhecido a U.G. nessa época, estava evidentemente preparando-se para alguma calamidade ou transformação de enormes proporções. U.G. não disse nada. Na manhã de 9 de julho de 1967, data de seu aniversário de quarenta e nove anos, U.G. foi com um amigo para ouvir J. Krishnamurti em uma palestra pública numa grande tenda nos arredores de Saanen, a aldeia onde ele e Valentine tinham morado por algum tempo.


U.G. contratou com um editor para escrever sua autobiografia. Enquanto trabalhava no livro, U.G. chegou à parte que descrevia sua associação com J. Krishnamurti. Ele não se lembrava muito do que sentira perante o reverenciado "Instrutor do Mundo" da Sociedade Teosófica. Ele havia perdido completamente o contato com J. Krishnamurti por muito tempo e não tinha opinião definida sobre ele. Então ele decidiu ir, naquela dia, assistir a palestra matutina de J. Krishnamurti para "refrescar a memória", como ele disse mais tarde.


No meio da palestra. U.G. ouviu a descrição que J. Krishnamurti fazia de um homem livre, e de repente percebeu que era ele mesmo que estava sendo descrito. "Que diabo estou fazendo ouvindo alguém descrever como estou funcionando?" Liberdade na consciência tornou-se naquele momento não mais algo "lá fora", mas simplesmente o jeito que ele estava funcionando psicologicamente naquele exato momento. Isso o chocou tanto que ele deixou a tenda completamente atordoado e caminhou sozinho em direção ao chalé, do outro lado do vale. Aproximando-se do chalé, ele parou para descansar num banco, de onde se avistavam os belos rios e as montanhas do Vale de Saanen.


Sentado sozinho no banco, olhando o vale verde e os picos escarpados de Oberland, ocorreu-lhe:


"Eu tenho procurado por toda parte para descobrir uma resposta para minha pergunta, 'existe iluminação?', mas nunca questionei a busca propriamente dita.


Porque implicitamente eu assumi que esse objetivo, iluminação, existe, eu tive que procurar, e é a própria busca que estava me sufocando e me afastando de meu estado natural.


Não há tal coisa como iluminação espiritual ou psicológica porque não existem essas coisas, espírito ou psique, absolutamente.


Fui um maldito idiota (damn fool) toda a minha vida, procurando por aquilo que não existe.


Minha busca terminou."




Agradecemos ao pessoal do site Desenredo pela tradução desse artigo.


Fonte: http://editoraadvaita.blogspot.com.br/search?updated-min=2009-01-01T00:00:00-03:00&updated-max=2010-01-01T00:00:00-03:00&max-results=50

UG KRISHNAMURTI UM FILÓSOFO RADICAL



Em abril de 2012 fiz uma postagem denominada "A filosofia de UG KHRISNAMURTI. Foi nesta ocasião que tomei conhecimento de sua existência e seu pensamento muito me impressionou mas não ao ponto de fazer uma revolução na minha maneira de ver a mim mesma e ao mundo. Hoje, voltei a me lembrar dele, estava relendo um livro de J. Krishnamurti. 

J. Krishnamurti foi para UG o que Freud foi para Jung. No início o mestre deslumbra o discípulo, depois o discípulo procura seu próprio caminho e como é esperado, cada um segue para um lado. Mas como eu ia dizendo, quis buscar novamente o pensamento de UG e encontrei  este post que transcrevo para vocês. Talvez vocês fiquem tão perturbados quanto eu, talvez não, só a leitura do mesmo poderá responder a esta questão.



Quem tem medo de U.G.? 

Falar sobre U.G. Krishnamurti (Upaluri Gopari Krishnamurti ) não é fácil. Trata-se de um filósofo radical e polêmico, que suscita reações extremadas com relação a seu ensino. Veja aqui uma pequena amostra de suas mensagens, verdadeiros artefatos explosivos a detonar conceitos estabelecidos:

"Fazer amor é guerra; causa-efeito é o lema de mentes confusas; yoga e dietas saudáveis destroem o corpo; o corpo é imortal, e não o espírito; não há nada dentro de você exceto medo; comunicação é impossível entre seres humanos;  Buda foi um excêntrico..."

Que significa tudo isso? a meu ver, é iconoclastia pura. Ele destrói todos os ícones, e derruba todos os conceitos afirmando as antíteses dos mesmos, chocando aos leitores.

Muitos sairão correndo perante o louco, o anticristo, o nihilista. Tais declarações, porém, têm o poder de nos revelar a nós mesmos, o quanto somos apegados ao nosso mundo interior, edificado sobre o medo e a esperança, e formado por palavras, imagens, conceitos, crenças e descrições que fazem sentido para nós e de algum modo nos dão segurança e conforto psicológico.

Os que desejam a religião como uma estrada pavimentada até o Divino recusarão mesmo o simples tomar conhecimento de suas mensagens, e, com isso, certamente estarão afirmando e defendendo a si próprios, ou, seja, aquelas opiniões, crenças e ideologias com que se identificam.

Vejamos mais um trecho das declarações de U.G.:

"Todas as palavras que usamos são "sobre", "a respeito de", "acerca de"... elas não têm realidade. São abstrações mentais, agem no plano virtual."

De fato, tudo o que sabemos, conhecemos, vem de fora de nós. Quando nascemos, somos como tábula rasa em matéria de conhecimentos, crenças, etc (mas não em matéria de tendências ou propensões, que são inatas).

O que acontece então? Em primeiro lugar nossos pais vão nos ensinando os nomes e descrições das coisas. Depois as escolas, universidades, igrejas, a cultura vigente, etc., vão formando nosso ego mental, nossa personalidade (que, como se sabe, vem do grego: PERSONA, quer dizer Máscara).

Note-se que a sociedade, seus valores e suas leis, sistemas políticos e religiosos, produz um grande conjunto de informações e valores que, paulatinamente, vai sendo incorporado às crianças, recriando em suas mentes uma cópia do mundo que os envolve.

Em toda essa massa de informações estão incluídos inúmeros conteúdos psicológicos, de natureza tribal, política, moral ou religiosa, que definem, condicionam e limitam a consciência humana. E nesses limites, estreitos ou amplos, surge e se desenvolve a noção de sermos, cada um de nós, um sujeito pessoal, permanente, único e separado (que chamamos de ego), o qual tende a se apegar a esses valores e defende-los tenazmente, recusando qualquer visão de mundo que possa ameaçar seus conteúdos fundamentais.

Veja o leitor por si mesmo, ao ler algumas impiedosas declarações de U.G., caso sinta alguma opinião ou valor sendo confrontado, se instintivamente não se "fecha" em si mesmo, recusando tais mensagens:

"serviço humanitário é um total cultivo do ego; ir à igreja ou ir ao bar para um drink são idênticos; Deus, Amor, Felicidade, o inconsciente, morte, reencarnação e alma são invenções de nossa rica imaginação; Freud é a fraude do século 20, enquanto J. Krishnamurti é sua maior impostura..."

Note que U.G. derruba todas as imagens e conceitos, não poupando nada nem ninguém, chegando a atacar imagens consideradas intocáveis ou sagradas como Buda, Jesus, Freud e mesmo Jiddu Krishnamurti, o famoso sábio indiano do século XX, com o qual ele, U.G., tem bem mais que o nome em comum (nos nomes próprios indianos, o sobrenome vem primeiro, e o nome vem por último).

Ressalte-se que U.G. teve uma relação forte com J. Krishnamurti, que também o respeitava; na verdade, U.G. bebeu nas águas límpidas desse sábio maravilhoso, antes de perder tudo na vida, a partir dos 49 anos de idade, quando teve início um processo que ele chamou de "calamidade", levando-o a separar-se de sua família, perder suas posses, seu prestígio (era um orador muito conceituado), e também a viver um bom tempo como mendigo na Inglaterra, indo depois à Suiça e ao Consulado da índia a fim de pedir repatriamento para a sua terra natal, pensando consigo mesmo:

"Lá (na índia ) ao menos eles não poderão me expulsar, afinal eu nasci naquele país. Quem sabe eu possa sentar-me sob uma árvore banyan e mendigar meu sustento para as pessoas que passam".

Quem recusar sumariamente sua mensagem e passar adiante, conservando intacto seu edifício mental, perderá a grande oportunidade de ver transformar-se em cinzas suas convicções, que não são suas, posto que não as descobriu nem criou, apenas aceitou por medo ou conveniência.

Desabando esse edifício, o Ser, até então limitado ao pequeno ego mental, terá oportunidade de se liberar de toda sorte de entulho e poderá então, por assim dizer, se reconciliar com o Mistério de onde veio. Normalmente, porém, nós não apenas consideramos que essas convições não são obstáculo ao famoso "religare" com o princípio Divino, mas, muito ao contrário, consideramos que as mesmas são exatamente o caminho para esse objetivo...

Isso mostra o quanto somos escravos de nossos conteúdos mentais; isso é inegável, embora raramente o percebamos. O pensamento e a palavra são a base de toda crença; mas a palavra, seja ela qual for, é sempre SOBRE, acerca de, a respeito de alguma coisa.

Tudo o que temos são idéias, pensamentos, palavras que representam alguma coisa, e tudo vai aos poucos formando a nossa interpretação sobre uma certa Realidade que permanece intocada. Nossa visão sobre o mundo espiritual fica limitada pelas crenças que temos, e, como disse U.G., a palavra torna-se a máscara da Realidade subjacente a todos nós.

Nossa existência é complexa, e o ser humano, ignorante acerca dessa Realidade além do mental, além das projeções humanas, e sem perceber absolutamente que ele "não sabe e não sabe que não sabe", e que, além disso, não se pode traduzir essa Realidade em crenças, palavras e conceitos, se entope de lendas, mitos, ilusões e fantasias para ajudá-lo na incerteza e na falta de sentido de seus caminhos.

Dessa ignorância decorre que somos apenas as idéias e sentimentos que temos, idéias essas que nos são passadas pelo convívio social e pela experiência. Nossa mente é formada por seus conteúdos, os quais estão continuamente se manifestando e chocando-se uns com os outros, em conflito, alternando-se no "poder", etc.

É bem conhecida a metáfora budista que compara a mente a uma casa sem amo: cada vez que um dado conteúdo, na forma de pensamento, torna-se preponderante, faz o papel de amo da casa toda, e determina o rumo de nossa ação, o que causa inúmeras consequências, podendo ser inclusive motivo de dores e arrependimentos mais tarde. Pode-se dizer então que, como entidade independente, "a mente é um mito", como diz U.G.: há apenas conteúdos repletos de energia emocional que querem se repetir, propagar, se manifestar indefinidamente.

Ao perceber o constante ruído de emoções e pensamentos autônomos, compulsivos e conflitantes, surge naturalmente no ego o desejo de ficar livre de tudo isso, visando o sossego mental, a paz, a felicidade. Surgem então variadas técnicas de concentração, meditação, contemplação, rezas, terços, repetições de mantras, etc., as quais se transformam em práticas visando a um objetivo: o silêncio da mente, mediante o qual se pretende fazer a limpeza do elo de conexão com o Universo, a Verdade, o Divino
.
Não percebemos, porém, que qualquer atividade onde há um "sujeito" (o ego) visando a um objetivo distante (o Divino, a Paz, a Felicidade, etc), exigirá o dispêndio de esforço ao longo do tempo, para obter méritos e aperfeiçoamento - e isso reforça o próprio ego que se deseja silenciar ou transcender. Ou seja, enquanto houver "alguém" que quer atingir "algo", será recriada a relação dual que está na raiz da separação entre o homem e Deus.

Que fazer? ficamos então numa situação delicada: de um lado, a mente (muitas vezes comparada a um macaquinho pulando de galho em galho) nos leva a preocupações, ansiedade e todo tipo de tormentos; de outro, vemos que esse mesmo macaquinho quer encontrar uma solução para o barulho e a tagarelice, forçando-se ao silêncio, o que gera esforço mental inútil e até perigoso (aqui é bom que se saiba que o desgaste energético que o ego faz para se manter quieto, meditativo, contemplativo, etc., pode provocar danos neurológicos).

Acontece que o silêncio da mente não pode advir de uma ação intencional do ego, que é a raiz da tagarelice; ao tentar se anular, ele estará apenas se perpetuando. Mas pode advir da compreensão de que a idéia de ego também é uma construção mental, desprovida de realidade. Nesse caso, todo esforço torna-se inteiramente desnecessário; não se trata de religar o ego a Deus, mas simplesmente de perceber que não há nada separado da Totalidade, a não ser a idéia da separação - e, portanto, o movimento de busca de uma Realidade transcendente acaba sendo a perpetuação do buscador.

Por isso U.G., como um mestre radical que é, acentua que a busca é o último obstáculo do buscador, e deve cessar. Ele se refere ao "estado natural", como um lago tranquilo sem ondulações, que é a própria Felicidade - porém qualquer movimento, mesmo no sentido de encontrar essa bem aventurança, já insere a dualidade, a perturbação e a ansiedade.

O "estado natural" de que ele fala é sem dúvida um estado de silêncio, de vazio interior, sendo impossível de se conseguir intencionalmente pela prática de técnicas meditativas, terapias, rituais, contemplação, etc, visto que esses processos estão sempre recriando a relação sujeito-objeto, a qual supõe sempre o tempo, o esforço e o vir a ser.
Por isso U.G. diz que "o estado natural é acausal - está além do fazer, da causa e efeito".

Assim, se o ego, reconhecendo seu estado de tormento interior, percebe de maneira profunda, completa e total que nada pode fazer para atingir a união tão almejada com o Divino, então ele pode cessar todo o esforço e repousar exatamente nessa bem-aventurança.

Porém, a maior parte da humanidade prefere ter o conforto de uma crença "oficial", de uma religião organizada em cima do ensino dos grandes Mestres da humanidade. é verdade que, geralmente, não se trata de experiência própria; achamos que sabemos algo porque "acreditamos" em conteúdos, crenças e lições que ouvimos de terceiros, sendo essas crenças e práticas o suposto caminho para se livrar de nossas dores, temores e mazelas.

Pessoas assim, necessariamente, recuarão imediatamente ao tomar algum contato com U.G., tachando-o de hermético, radical, seco, autoritário, etc, o que é sem dúvida uma interpretação compatível com seus valores e crenças, porém inteiramente desprovida de liberdade: concordamos com quem concorda conosco, e discordamos de quem de nós discorda; porém, jamais vamos a um estado de consciência além do concordar e discordar.

Aqueles que, porventura, estiverem num processo que se pode chamar de "o despertar da compreensão", terão uma visão muito diferente. Não tendo conteúdos ou pontos de vista radicais a defender, poderão descobrir em U.G. uma extrema beleza e compaixão, que inclusive se recusa a se declarar como tal, preferindo que essa percepção surja naturalmente, espontaneamente.

Não será esse o extremo do amor, que, como o perfume de uma flor, não pede para ser apreciado, mas está disponível para todos? 
Para terminar, mais um pensamento de U.G. Krishnamurti, que, de certa forma, resume todo o seu ensino:
"A assim chamada realização de si mesmo é a descoberta, para si mesmo e por você mesmo, de que não existe você mesmo para ser descoberto".

Autores: E.F.L. Costa  (Dhyan 1) e  JC Cavalcanti
FONTE