quinta-feira, 5 de julho de 2012

PERCEPÇÃO FRAGMENTADA DO PROPÓSITO DA VIDA




O CAOS E O PROPÓSITO SUPERIOR

Quando nos conhecemos apenas por meio do conteúdo, também
pensamos que sabemos o que é bom ou ruim para nós mesmos.
Discriminamos os acontecimentos entre os que são "bons para nós" e aqueles que são "maus". 

Essa é uma percepção fragmentada da unicidade da vida na qual tudo está interligado, em que cada acontecimento tem seu lugar e sua função dentro da totalidade. Contudo, a totalidade é mais do que a aparência superficial das coisas, mais do que a soma total das suas partes, mais do que qualquer coisa que nossa vida e o mundo contêm.

Por trás da sucessão de acontecimentos algumas vezes aparentemente
aleatórios ou até mesmo caóticos da nossa vida, assim como do mundo,
acontece de maneira oculta o desenrolar de uma ordem e de um propósito superiores. 

Há um ditado zen que expressa isso de forma maravilhosa: "A neve cai, cada floco no lugar adequado." Nunca seremos capazes de compreender essa ordem superior pensando nela porque tudo o que pensamos é conteúdo. 

No entanto, ela emana da dimensão sem forma da consciência, da inteligência universal. Ainda assim, podemos vislumbrá-la.
Mais do que isso, somos capazes de ficar alinhados com ela, ou seja, de
atuarmos como participantes conscientes do desenvolvimento desse propósito superior.

Quando vamos a uma floresta que não sofreu interferência do homem,
nossa mente pensante vê apenas desordem e caos ao nosso redor. Ela não é capaz nem mesmo de diferenciar o que é vida (bom) do que é morte (mau), uma vez que, por toda parte, a nova vida cresce a partir da matéria putrefata e em decomposição. 

Apenas se nos mantivermos silenciosos o bastante internamente e o ruído do pensamento ceder, é que poderemos tomar consciência de que existe uma harmonia oculta ali, uma sacralidade, uma ordem superior em que tudo tem seu lugar perfeito e não poderia ser outra coisa a não ser o que é da maneira como é.

A mente sente-se mais à vontade num parque paisagístico porque foi
planejado pelo pensamento, ele não cresceu organicamente. Nesse parque existe uma ordem que a mente é capaz de entender. Na floresta, há uma ordem incompreensível que, para ela, se parece com o caos. Está além das categorias mentais de bom e mau. 

Não conseguimos apreendê-la por meio do pensamento. No entanto, podemos senti-la quando o deixamos de lado, ficamos silenciosos e atentos e não tentamos entender nem explicar. Só então estamos aptos a tomar consciência da sacralidade da floresta. 

Tão logo sentimos essa harmonia oculta, constatamos que não estamos separados dela e, nesse momento, nos tornamos um participante consciente dessa sacralidade. Dessa maneira, a natureza pode nos ajudar a retomar o alinhamento com a unicidade da vida.

Fonte: O Despertar de Uma Nova Consciência - Eckhart Tolle, p.128