sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

A ILUSÃO DE SEPARAÇÃO


Fonte da imagem : 
http://spleenbored-minhaspoesiasfavoritas.blogspot.com/2009_05_01_archive.html




Alan Watts, confidencia, em seu livro Tabu, que:

"[...] o livro que eu confiaria a meus filhos não conteria sermões, deveres e obrigações. O amor genuíno vem do conhecimento, não de um sentimento do dever ou de culpa. Quem gostaria de ser uma mãe inválida com uma filha que não pode casar-se por sentir que deve ficar cuidando da mãe e que portanto a detesta? Meu desejo seria dizer, não o que as coisas devem ser, mas sim como é que são e como e por que razão ignoramos como elas são.


Não podemos ensinar um ego a ser outra coisa que não egoísta, embora os egos tenham as formas mais sutis de se fingirem reformados. A primeira coisa a fazer, portanto, é desfazer, por experimento e experiência, a ilusão do ser como um ego separado.


O resultado pode não ser um comportamento nas linhas da moralidade convencional. Pode muito bem ser como aquilo que os justos disseram de Jesus: "Olhem para ele! Um glutão e um bêbado, um amigo dos cobradores de impostos e dos pecadores!"


Além disso, ao vermos através da ilusão do ego, torna-se impossível pensarmos que o nosso ser é melhor ou superior a outros pelo fato de tê-lo conseguido. Existe apenas, em todas as direções, um só ser nos seus incontáveis jogos de esconde-esconde.


Os pássaros não são melhores do que os ovos de onde saíram. Na verdade, até podemos dizer que um pássaro é a maneira de um ovo se transformar em outros ovos. O ovo é o ego,  com o pássaro sendo o ser libertado.


Há um mito hindu em que o Ser é um cisne divino, que pôs um ovo, do qual saiu o mundo. Assim, nem mesmo estou dizendo que devemos sair de nossa casca. Um dia, de qualquer modo, nós (o verdadeiro nós, o ser) faremos isso, seja como for, mas não é possível que o papel do ser permaneça adormecido na maioria de seus disfarces humanos e que, assim, conduza o drama da vida na terra a seu fim, numa vasta explosão.


Outro mito hindu diz que, à medida que o tempo progride, a vida no mundo se vai tornando pior e pior, até que finalmente, o aspecto destrutivo do Ser, Xiva, executa uma terrível dança que consome tudo em fogo. 

Depois, diz o mito,  seguem-se   4.320.000 anos de paz total, durante os quais o ser é simplesmente ele mesmo e não brinca de esconder. 

Depois, o jogo começa de novo, agora como um universo de perfeito esplendor que só se começa deteriorando 1.728.000 anos depois, e cada estágio do jogo é organizado de tal maneira que as forças da escuridão se apresentam apenas durante um terço do tempo, tendo, no final, um breve mas totalmente ilusório triunfo. [...]"